Confusas Soluções

- Voar...

Foi o que Agnaldo balbuciou enquanto dormia. Marina com seu jeito desconfiado e sono leve, se revirou na cama, incomodada.

- Voar... - Balbuciou novamente Agnaldo.

- Voar o quê, criatura?! – explodiu Marina, irritada.

Agnaldo acordou exasperado, sem compreender o que estava acontecendo, quando se deparou com a expressão ranheta de sua esposa.

- O que houve, mulher?!

- Você fica resmungando coisas sem sentido enquanto dorme, esteve falando em voar, que história é essa?

Agnaldo olhou a outra com certo tédio. Mais uma briga sem sentido no meio da madrugada não ajudaria em nada no rendimento necessário para o novo emprego na manhã seguinte.

- Eu não sei, as pessoas sonham e algumas falam enquanto sonham. Eu devia estar sonhando. – Concluiu, dando as costas para Marina.

- Quer dizer que você anda sonhando em voar? Você nunca voou! Como pode sonhar com uma coisa que nunca fez?

- Amor, pelo amor de Deus! Pare de ser louca!

- Olha! Bem o que a Benedita andou me falando! Eu não acredito que você está me traindo! – gritou Marina, levantando da cama em um pulo.

- O quê?! – Agnaldo sentou na cama, perplexo.

- Benedita me falou que não tem erro! Quando um homem tenta se explicar usando “amor”, “Deus” e “louca” na mesma frase, significa que ele está dormindo com outra!

- Marina, dê voz à razão. Eu não estou te traindo. Isso não faz o menor sentido! – Suplicou o homem.

Marina sentou na cama, reconsiderando. Se parasse pra pensar, realmente isso não fazia muito sentido.

- Mas então explique o “voar”. - contrapôs, afinal, não podia dar o braço a torcer tão facilmente.

Agnaldo então se enfureceu. Levantou da cama chutando tudo o que encontrava pelo caminho. Saiu do quarto, bateu o pé até a cozinha, onde se apoiou na pia e respirou fundo.

Marina foi, sorrateiramente, atrás do marido. O que podia fazer, afinal? Foi a primeira vez que ele teve uma reação tão agressiva às suas constantes investidas desconfiadas. Esgueirou-se por trás da geladeira e espiou o homem que segurava a pia com tanta força.

- Volte pra cama. – Pediu ela, se aproximando lentamente.

- Pra quê? Para ouvir as teorias absurdas das fofoqueiras com quem você passa o tempo?

Marina estendeu o braço para tocar o marido. Ele estava certo, ela sabia disso. O puxou pelas mãos carinhosamente e o guiou até o quarto. Lá, lhe deu um beijo apaixonado e com lágrimas nos olhos, pediu desculpas.

- Eu não devia permitir que minhas loucuras passem por cima do que há de bonito entre nós... – Disse ela, com a voz embargada.

Então Agnaldo desabou. Sentou no chão agarrado às pernas como uma criança em desespero. Chorou incessantemente durante o que pareceram horas, e nada do que Marina dizia acalmava o homem. Então finalmente o choro cessou. Agnaldo agarrou firmemente os braços de Marina e a puxou para um forte abraço.

Seu peito estava arfante, seu rosto quente e molhado devido às lágrimas. Marina se afastou e acariciou seu rosto, confusa.

- O que foi isso?

Agnaldo baixou a cabeça, desolado.

- Você está certa. Tive um caso com uma aeromoça, mas foi apenas uma noite! – Emendou ao ver a expressão de espanto no rosto de sua linda esposa.

Marina se afastou lentamente, como se não soubesse o que fazer. Levantou e caminhou até a cama, onde deitou com o rosto no travesseiro.

Agnaldo não teve coragem de interrompê-la. Pegou uma coberta no guarda-roupas e foi dormir na sala.

“Eu sabia.” Pensou Marina, embalando num choro que duraria dias.

“Pelo menos ela parou de me encher o saco.” Pensou Agnaldo, se ajeitando no sofá.

Débora O A Assumpção
Enviado por Débora O A Assumpção em 20/02/2013
Código do texto: T4150562
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