Presente de natal.

Presente de natal

Autor: Daniel Fiuza

10/05/2001

Era dezembro de mil novecentos e setenta, última semana antes do natal, toda a cidade de Fortaleza estava tomada pelo espírito natalino. Árvores de natal, vitrines decoradas com presépios, reis magos, estrelas e todo tipo de alusão ao natal. A cidade estava alegre e saltitante, o povo feliz e sorridente, todos esperando a grande data. Um rosto triste se destacava nessa euforia natalina. Era Leinad Azuif, um jovem ainda na flor da sua juventude; Ele trabalhava numa livraria e já ocupava o cargo de gerente, ganhava um bom salário e não tinha nenhum motivo para estar triste. Mas estava, muito triste, uma tristeza de se notar de longe. Dona Francisca Macedo, uma senhora viúva, distinta e chic, além de muito rica. Era uma das melhores freguesa da livraria, não ficava uma semana sem passar por lá e comprar vários livros. Fazia questão de ser atendida por Leinad, não só pela gentileza do seu atendimento, mas também por seus conhecimentos literários. Ela ficava horas conversando com o moço e só depois de muitos assuntos é que escolhia os livros que ia comprar. Leinad tinha muitos amigos, muitas garotas e toda uma vida pela frente, mas se encontrava naquele estado lastimável de melancolia. O motivo não era outro senão saudade, ele estava morrendo de saudade da família, foi o único membro da família que ficou em Fortaleza, todos os outros haviam emigrado para São Paulo. Leinad sempre foi muito ligado à família, e aquele seria o primeiro natal que ele passaria sozinho sem a mãe e os irmãos. Seu pai já havia falecido há muitos anos atrás. Dona Francisca havia enviuvado há mais de dez anos, devia ter cinqüenta anos, mas aparentava ter somente quarenta, era muito bem cuidada, se vestia elegantemente e tinha um porte físico exuberante. Era dama da alta sociedade, vira e mexe aparecia nas colunas sociais dos melhores jornais. Naquele dia que antecedeu a véspera do natal, dona Francisca passou na livraria para comprar alguns livros e levar uma lembrancinha para Leinad, logo que chegou já notou a tristeza do rapaz. – Você está com algum problema? Ela perguntou preocupada. – Coisa minha, coisa à-toa. Respondeu Leinad. – Posso ajudar em alguma coisa? Perguntou dona Francisca com ar maternal. – Não sei... Acho difícil! Respondeu cabisbaixo. – Vamos tomar um lanchinho aqui perto? Assim você pode se abrir comigo e se aliviar dessa angustia. Falou num tom imperativo. – Ta bom, vamos sim! Mas acho muito difícil a senhora resolver meu problema. Já na lanchonete, Leinad, relatou para dona Francisca todo seu tormento, a sua imensa saudade da família. E salientou que não tinha lugar para passar o natal. Desabafando ainda: leinad contou que todos os natais eram iguais para ele, disse que na casa dele nunca teve uma mesa farta no natal, era um dia comum como qualquer outro. E que tinha recordações tristes da sua infância na época do natal. Nunca tinha ganhado nenhum presente que desejava ganhar. Sua família era pobre, só ganhava brinquedos usados dos primos mais abastados, refugos de outros natais. Mas agora era diferente, além dessas recordações tristes, não teria também a presença da mãe e dos seus irmãos. Ás lágrimas rolaram na face de dona Francisca. – não queria fazer a senhora chorar, dona Francisca. Falou Leinad. – por favor, não me chame de dona Francisca, detesto esse nome. Retrucou enxugando as lágrimas num lencinho imaculadamente branco. – Me chama de Ciça, por favor, só ciça. Passada a emoção da revelação, já quase no fim do lanchinho, dona Francisca perguntou para Leinad: - Quer passar o natal na minha casa? - Na sua casa? Falou assustado. - Sim, quer ir? – Mas não conheço ninguém! Vou ficar sem jeito por lá. – Pode ficar tranqüilo, eu, estarei sempre do seu lado, te farei companhia o tempo todo! Falou enfática. Depois de muita insistência Leinad acabou aceitando o gentil convite. – O.k. Ciça, eu irei. Ciça escreveu no guardanapo de papel o seguinte: Av. Monsenhor Tabosa, 2034 – Aldeóta. - natal de 1970 - chegar após ás 23 horas – Ciça. Ao chegar naquele endereço ele ficou impressionado com o tamanho da casa, aquilo nem era casa, era uma imensa mansão. Tocou a campainha. A própria Ciça veio recebê-lo Leinad estranhou que uma mansão daquelas não tivesse um porteiro ou mordomo para atende a porta. Ciça parecia que adivinhava seus pensamentos. – Entre, disse ela. - Dei folga á todos os empregados para que pudessem passar o natal com suas famílias. Na beira da piscina havia uma grande mesa, forrada com uma toalha branca de linho, repleta de comidas e bebidas de todos os tipos, e ao redor da piscina e nas árvores uma discreta decoração natalina. – Onde estão os outros convidados? Perguntou Leinad. – Não há outros convidados! Respondeu Ciça. – Somente eu e você. Ciça explicou que os dois filho dela nunca passavam o natal com ela, eles sempre viajavam para a Europa nessa época do ano e levavam os netos também. Meia noite, Leinad entregou timidamente Seu presente. Ciça abriu, era um livro. (Eros e a civilização de Herbert Marcuse). Ciça adorou o presente, pois procurava por esse livro fazia tempo, mas como era muito vendido andava em falta. – O seu presente é surpresa, Falou Ciça. Pegou Leinad pela mão e foi caminhando para dentro da casa, na direção do seu quarto. Dentro do quarto ela disse: - Aguarde um momentinho aqui que vou buscar seu presente, será uma surpresa. Leinad Ficou realmente surpreso ao ver Ciça totalmente embrulhada em papel de presente, com uma grande fita de seda azul, formando um grande laço na cintura. – Eu sou o seu presente. Disse Ciça sorrindo. O rapaz influenciado Talvez pelo o whisky que bebeu, sorriu e disse: - Que belo presente!-Não vai me desembrulhar? Ela perguntou. Ele puxou o grande laço azul e todo aquele papel de presente despencou do corpo dela. Ciça ficou totalmente Nua. Um corpo muito bem conservado para uma mulher daquela idade. Ciça se aproximou do moço e começou a despi-lo. Cada peça que tirava dava um longo beijo nele. Depois foram para a cama onde se amaram ate a exaustão. Depois daquele feliz natal, e do maravilhoso presente que Ganhou, Leinad ainda viveria esse amor com Ciça por um ano e meio. Depois viajou para São Paulo e nunca mais teve notícia daquela extraordinária mulher.

Domfiuza
Enviado por Domfiuza em 09/08/2005
Código do texto: T41402