Muladeiro (capítulo XIX)
Mariquinha não sabia o que fazer para Antonio. O garoto estava com os olhos vidrados no chão, não saía daquele lugar para nada.
_____ Fio, vem comê alguma coisa, bebe um golinho d'água, pelo amor de Deus - insistia Mariquinha, sem conseguir resposta ou reação do menino.
_____ Por quê? Por quê? - subitamente gritou Antonio, fazendo com que Mariquinha se assustasse, e largasse o copo de leite com café que segurava em sua mão.
Sem pestanejar, ela correu em sua direção, abaixou-se e o abraçou com todo afeto e carinho de uma mãe. Naquele posição permaneceram por alguns instantes, chorando juntos e nada dizendo um ao outro.
Não conseguindo mais resistir, Antonio levantou-se, manteve-se abraçado em Mariquinha e falou com convicção.
_____ Vou corrê mundo, atrás daquele fio duma égua, nem que seja a última coisa que faço na vida.
Tecer qualquer comentário sobre aquela afirmativa era inútil; então ela concordou com a cabeça, mesmo que sua consciência dissesse o contrário.
Aparentemente mais calmo, ele pediu um farto prato de comida, um pedaço de pão e um copo com café bem adoçado. A fome chegara com força, e de repente se lembrou do que seu pai lhe dizia "saco vazio não para em pé." Comeu tudo o que tinha no prato, mas não repetiu.
_____ Agora chega! Num sou moleque marmota, que chora sem parar. Quero ir pra casa, Mariquinha. Me leva lá, agorinha mesmo! - quase que num tom de ordem, Antonio fazia seu segundo pedido à mulher.
_____ De jeito manêra, moleque! Onde cê tá com a cabeça? Nem posso fazê isso, o Delegado disse pra num dexá ocê arredá o pé daqui. E trate de me obedecê, porque a situação tá preta - disse Mariquinha, com uma voz tão amável, que Antonio nem percebeu que estava levando um pito.
_____ Tá bão, mas amanhã, de manhãzinha, nada me segura aqui. Quer o Delegado queira, quer não, preciso voltá pra fazenda. Tadinho do Minduim e do Israel, de certo tão sentindo minha falta.