O Karaté

Numa ocasião em que eu estou a ver umas fotografias do casamento da minha irmã Clara, no qual eu tinha sido o padrinho, reparo, com alguma tristeza, na minha figura demasiado anafada. Resolvo então ir praticar um desporto.

Na altura estava muito em voga o Karaté. Inscrevo-me e por lá andei a dar o corpo ao manifesto durante uns anos.

Eu ia a todas, recordo-me numa ocasião de ir às Caldas da Rainha assistir a uns combates de competição, e de a equipa de Lisboa Da Associação de Karaté Do, à qual eu pertencia, estar na iminência de ser desqualificada dos quartos de final por falta de um atleta. Tinha acontecido que na véspera, nas eliminatórias individuais, o nosso atleta tinha sido atingido no nariz e partido a cana.

Convencem-me a ocupar o lugar dele para a equipa não ser desqualificada.

Dão-me o quimono do atleta lesionado para vestir. Estava sujo, todo cheio de sangue seco, devido à hemorragia. Devo antes de mais esclarecer que na altura eu era um simples cinto verde, como tal não tinha qualificações para entrar em competições.

De um momento para o outro, vejo-me com um cinto preto atado à cintura. Fui o último da minha equipa a entrar em Kumitê (combate), a equipa estava empatada e muito triste, pois não era um cinto verde que podia derrotar um cinturão preto. O capitão diz-me para eu dar o combate como perdido e assim evitar o vexame que eu iria sofrer. Senti-me ferido no meu orgulho e avancei para a linha que me separava do meu adversário. Mal o árbitro baixou a mão a dar o início ao combate, dou um passo em frente e marco um wazary com um pontapé que lhe acerto na barriga.

Novamente ao centro. Ainda estou a imaginar como consegui aquele ponto - talvez outro cinturão falso como eu... - quando de repente me vi no chão e com a cabeça a andar à roda. Penso que estive desacordado por breves instantes, tal foi a violência do pontapé que levei na cara.

Ganho o combate, porque o meu adversário é desclassificado por falta técnica (todas as técnicas têm que ser feitas com controle, principalmente as dirigidas ao rosto).

Mais tarde o meu adversário pede-me desculpas, justificando-se que, ao reparar no meu quimono cheio de sangue e pelo facto de ter marcado um ponto quase sem ele se ter posicionado, pensou que eu era um concorrente perigoso.

Ficámos em terceiro lugar porque no combate seguinte levantei a mão a desistir, não fosse o caso de me darem cabo do canastro.

Extrato da minha história de vida.

Lorde
Enviado por Lorde em 05/02/2013
Reeditado em 05/02/2013
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