Bazar
Motivos sociais delicados me fizeram montar aquele bazar na sala de aula com calçados e roupas usadas, cintos e bugigangas doadas por amigas e vizinhas. Fizemos, os alunos e eu, o Acordo das Vendas:
.Só para alunos da classe;
.O preço de qualquer mercadoria não poderia ultrapassar o dos lanches vendidos na Escola;
.Quem não tinha acesso a dinheiro algum poderia fazer trocas e, através do voto, decidiríamos a aceitação ou não;
.E o que faríamos com o dinheiro.
Era apaixonante para todos nós.
Expliquei o quanto era importante comprarmos coisas de valor universal e tive agradável surpresa quando fomos usar o dinheiro. Algumas das crianças eram chamadas de meninos de rua em muitos ambientes da cidade, mas chegaram no dia seguinte com informações das mais lúcidas: ─ o dinheiro dá para comprar pipocas, mas está com data vencida na Banca tal... Ou para bolinhas de chocolate e amendoim, mas estão em vasilha aberta no balcão.
Sugeri, para livrar-me de um tormento escolar, que comprássemos borrachas. E elas, terrivelmente bravas, reagiram: “Queremos é comida!”
Descobrimos que uma vitamina de banana era viável. Resolvemos que cada um traria uma colher e meia de açúcar, compraríamos bananas e eu daria limões. Preveni que todo o processo estava sob nossa responsabilidade, pois era iniciativa apenas daquela classe, enveredamos então para o assunto Público e Privado. Enchemos copos de água e açúcar formando litro, nos encaminhamos para o assunto medidas.
Era saboroso ensinar assim. Mas o momento mais emocionante foi o dia em que um aluno pediu para trocar um pedaço de brinquedo por uma peça de roupa em excelente estado. Meu olhar adulto comparou rápido e votei contra. Mas, eis que um menininho lá de seus nove anos, levantou-se e votou a favor justificando: olha gente, é a primeira vez que ele pede uma troca (eu não havia percebido isto); e a roupa serve na Maria irmã dele (eu não sabia disto).
A maioria votou a favor, também mudei o meu voto.