Nos tempos do medo

Quando eu tinha medo eu não me jogava com tanta força na vida. Por isso, as rachaduras que todos nós ganhamos por vivê-la em plenitude, em mim não eram tão grandes. Mais pareciam pequenas infiltrações que gotejavam de quando em vez.

Olhos fechados, braços abertos, peito exposto talvez um excesso de transparência.

Depois que abandonei o medo as cicatrizes nunca se fecharam e foram somando-se umas as outras e formando um vão... uma não muito pequena cratera que passou a me compor. Um pedaço intransponível, ou quem sabe indispensável.

De tanto viver sem medo, agora guardo comigo o medo maior de que esse vão nunca se feche completamente, e, de tanto jorrar, acabe me esvaziando de vez.