UMA AÇÃO DA ÇÃO CHUPANDO MANGA

UMA AÇÃO DA ÇÃO CHUPANDO MANGA

Ainda meninos, lá no interior, nas fazendas cultivadas e beneficiadas; e ermos gerais, onde a natureza falava mais alto; saíamos a vagar pelas margens dos córregos e/ou pelos cimos e sopés das serras e/ou pelos pomares cultivados e/ou plantados e cuidados pela mãe natureza; e/ou pelos matos, cerrados e descampados.

Não carece aqui citar nomes, raças, credos, sexos e idades de ninguém. Porém ficaria sem nexo não qualificar e nem caracterizar pelo menos um de nós. Pois bem, coube a única não homem, não acepção da palavra. Não homem... por que ela nasceu com vagina e tudo mais de menina, mas fazia e aprontava tudo que nós não mulheres fazíamos e aprontávamos. Para nós era a ÇÃO. Um nome como outro qualquer, que nem sabíamos o verdadeiro. Ninguém do nosso grupo ou outros que nos conheciam a diferenciava pelo que quer que seja: brincadeiras, tarefas e aparência. Vestia-se como todos: calça de mangas curtas e camisa; e impreterivelmente uma cueca por baixo da calça. Pois quando das peregrinações pelas margens dos córregos, quase sempre, mais sempre do que quase, pescávamos e/ou banhávamos. E nos banhos nunca ninguém ficou nu. Por quê? Não tínhamos explicação. Talvez seja por respeito a ela. Também nossas necessidades fisiológicas (defecar e/ou urinar) eram discretas, nunca à vista dela. Relembrando agora, dois ou mais de nós, sem ela, até que urinávamos juntos. Tínhamo-la como um de nós dentro de regras não escritas, mas obedecidas ao pé da letra. Ninguém era chefe como ninguém era menor ou inferior. Muito menos ela então.

Nos banhos de córregos, por sinal, intermináveis, nadávamos com braçadas vigorosas; e fora da água a algazarra era maravilhosa.

Se nos matos entrávamos com certeza descobríamos coisas inusitadas, tipo plantas diferentes ou animais raros. O que cada um de nós, a seu ver, dava uma caracterização da coisa vista. Alguns diziam que o animal era uma cotia, outros que era uma capivara, haviam aqueles que o descreviam como um caititu; raras eram as definições que conjuminavam.

Se as aventuras pelas serras nos cansávamos, voltávamos ao córrego para refestelar no banho e revigorar as energias gastas.

Nas visitas aos pomares, com variedades de frutas, típicas da região, nos empanturrávamos com elas: goiaba, banana, manga, laranja, lima, caju (principalmente o do cerrado), maracujina, fruta conde, araticum, mamão, ananás, ingá, tamarindo... e outros tantos que não me lembro de agora.

Tudo era nosso e para nós, desde que fosse cria da natureza, e não guardado por donos diferentes dos nossos familiares. As mangas, por exemplo, comíamos e/ou chupávamos suas polpas amarelas e suculentas, lambuzávamos o rosto e mãos numa delícia que hoje não se vê. Acontecia de às vezes a ÇÃO encher a barriga (estômago) em excesso com uma espécie de manga; e se encontrávamos outra espécie mais saborosa, ela enfiava o dedo na goela, vomitava tudo! E comia as consideradas mais saborosas. Na verdade não só ela, outros de nós fazíamos o mesmo; era quase uma praxe nossa.

Lá se foram anos deliciosos! De 1965 até 1973... Que não voltam mais.

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 30/01/2013
Código do texto: T4114170
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