Meninos de rua: a educação
A escola é a rua. Os olhares muitas vezes atentos ao que se passa ao seu redor vão desvendando os mistérios da vida, vai ensinando às nossas pobres crianças que sua realidade é parte diferente desta sociedade. Percorrer espaços e dá respostas bem diferentes a simples estímulos vai diversificando e ampliando seus horizontes marginais.
Uma primeira lição – pedir. No cotidiano desses pequenos seres o verbo pedir tem lugar de destaque. Seus pais pediram, seus pares também. Suas necessidades estão alheias a qualquer tipo de barreira. O corpo quer, então o corpo pede. O movimento é quase autônomo. Como se este corpo simplesmente não obedecesse a sua cabeça miúda. Pede-se para fumar, pede-se para comer, beber. Só não se pede para correr. Isso é instintivo. Esta habilidade, eles aprendem no ventre. No sacolejar de suas mamães correndo junto com o bando. Correndo da polícia, do comerciante, dos adversários. A escola é a vida, é lida diária contra os perigos. Uma verdadeira luta, travada dia após dia. Aprender para sobreviver essa é a lição.
Os mais variados graus de aprendizagem formam o novo menor abandonado. Alguns apresentam um estágio de educação que apenas os permite obedecerem ao chefe do bando e toda a hierarquia marginal. Não alcançaram a liderança e a periculosidade necessária à sua autonomia. Nesta classe encontram-se os recém-chegados e as crianças. Aprendem a se equilibrar, a mentir, a chorar. A sala de aula é dotada de vasto espaço. As cadeiras, os bancos de praça, um muro, o chão. As experiências são passadas através do exemplo – siga o mestre. É uma comunidade se reafirmando para seguir viagem.
É um aprendizado perigoso. As falhas podem levá-los a morte e a mutilações. Não se pode errar nessas circunstâncias de perigo. O pequeno se prepara para seu primeiro furto. Deverá ter adquirido boas habilidades de destreza, raciocínio e rapidez nas magras pernas. Tocou a última aula. Bom descanso alunos da vida.