Fantasma, eu ?
Era no início dos anos 80 e eu cursava Medicina em uma capital nordestina, famosa por seu folclore e tradições, mas também pela prática do coronelismo. Eu estava no meio do curso e precisava de um reforço no orçamento para me manter, já que eu mo rava só era era órfão de pai e mãe. Falei com uma prima minha, que tinha muita afinidade com a esposa de importante político daquele Estado e, ela me trouxe um bilhete daquela senhora, dirigido ao Secretário de Administração local (da capital). Fui, então, numa segunda-feira falar com esse Secretário, tendo sido bem recebido, mas que de maneira bem objetiva apenas me disse que estava tudo certo e me passou informações sobre como e onde receberia meu salário, não me falando sobre onde trabalharia e que função ocuparia. Na minha inocência, sai de lá sem entender nada...mas lá estava eu todos os meses, debaixo de sol ou chuva, enfrentando a fila de um banco estatal para receber o meu salário, às vezes até chateado porque precisava perder algumas aulas para essa missão bancária...Detalhe : assustei-me ao receber o primeiro contracheque em que constava cargo ou função não especificados e local de trabalho não especificado! Achei tratar-se de algum equívoco, porém, assim permaneceu por 2 anos, nos quais eu evitava conversar muito nas filas do banco para que ninguém perguntasse algo sobre o meu trabalho(o que eu responderia ?). No segundo ano o governo concedeu aumento ao funcionalismo municipal, mas o meu salário não havia sido reajustado...reclamar a quem ? Constrangido e temendo perder meu “ emprego” optei pela autodemissão (fui precurssor das demissões voluntárias ?) e não apareci mais para receber o
meu ordenado. Alguns anos depois, já formado, ouvi no jornal nacional uma notícia sobre a descoberta de funcionários fantasmas em outro Estado. Eu era um fantasma e não sabia ...

Dr Alvaro Fernandes
Enviado por Dr Alvaro Fernandes em 27/01/2013
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