VÔO AO CEU

Tudo é estranho mesmo que as pessoas sorriem sou um homem meio solitário que nunca ve o dia passar, tento não me lembrar dos meus vacilos, mas é quase impossível fugir deles. Revejo as canções da juventude no quarto sem janelas, e tudo não passa de uma noite sem sonhos só pesadelos. Amigos já se foram e nem terminaram o vinho que sobrou na mesa. Ouço a voz entrando pela janela e já partiu o cometa que vi alguns minutos, caiu por ai não sei aonde. A dormência entra pelos meus poros, viajo por estradas e trilhas meu irmão nem viu quando parti a maçã sem avisar a ninguém.

O corpo frágil como uma flor de lótus foi se desintegrando sobre a terra fria. Apenas as notas da canção ficaram nos confins da memória e na madrugada vejo da janela um ladrão armado com uma faca que passa pela jugular do cão. Ofereceram-me ópio logo pela manhã, mas por um punhado de cal a cova me espera.

Os carros viajam sem destino e os cavalos relincham no pasto. No abismo, também florescem as flores das macelas do passado que entre as pedras fazem as ondas do mar se disfarçar sempre que podem juntas ir à margem da lagoa. Paro e olho o dia e vejo que uma luz brilha na imensidão. Uma rua engrene me convida a subir, e os amigos sorriem jogando pétalas de rosa por onde passo. Santos e anjos voam em direção ao alto do morro procurando o céu.

Soa o sino,

é tempo de amar.

Riso de menino,

Voar e voar...