Os meus problemas com o padre Luís

A minha relação com a Igreja era comum à de todos os habitantes da aldeia, onde todos a frequentavam. No meu caso pessoal, era mais a minha relação com o padre Luís que vinha do tempo em que me deu umas nalgadas, por ter dado as duas badaladas nos sinos. Mais tarde na doutrina, uma altura em que ele estava a explicar que todos os homens eram descendentes de Adão, lembro-me de o interromper e armando-me em “chico-esperto” dizer:

- Homessa! Então se o Adão era branco e se nós somos brancos, está bem, somos filhos de Deus, mas e os negros, são descendentes do diabo?

- Seu impertinente! - E chapa-me uma “lambisca” nas trombas. «Mas que raio de feitio o meu», penso eu, enquanto esfrego a cara.

Numa outra ocasião, estávamos a rezar o terço e calhou-me a mim a função de tocar a campainha sempre que acabássemos as diversas secções de avé marias e santa marias. O padre olhou para mim sem que eu me apercebesse, topou-me na brincadeira com outro do lado e espetou-me uma “cachaçada” que me fez “amarguçar” em cima da campainha (e desta vez eu não disse nada).

Por altura de fazer a primeira comunhão, estalou uma guerra entre mim e a minha mãe que me poderia ter corrido mal. No seu entender o seu filho não era menos do que os outros, sendo assim, o seu Tónio tinha que fazer a comunhão juntamente com os outros.

Ora bem, se eu fosse um observador isento, com certeza que apoiava o seu direito a ver o seu filho feito santinho, de vela em punho a comungar juntamente com os outros, enquanto ela daria uma cotovelada na vizinha comentando: - olha lá, ó Gracinda, o meu Tónio é ou não é o mais bonito?

Pois é, mas a porra toda é que eu tinha um problema que me impedia de fazer a primeira comunhão. Tinha aprendido que antes de tomar a hóstia tínhamos que estar puros sem pecado algum, só então se poderia receber o Senhor, para isso havia que nos confessarmos ao Sr. Padre e depois de cumprida a penitência receberíamos o corpo de Cristo em forma de hóstia.

Então conhecendo como eu a mão lampeira do padre Luís, como é que eu poderia fazer a comunhão sabendo que tinha de me confessar? É que quem lhe tinha ido aos pêssegos e sem querer esgaçou uma pernada tinha sido eu.

Texto extraído da minha História de vida

António Correia

Lorde
Enviado por Lorde em 18/01/2013
Reeditado em 19/01/2013
Código do texto: T4091144
Classificação de conteúdo: seguro