Um homem não chora

Um Homem não chora

De pequenino é que se torce o pepino! Esta era uma das frases por mim ouvidas em criança e que servia de justificação aos castigos corporais com que éramos mimoseados sempre que fazíamos asneira.

Fazia parte da educação ancestral, esta prática e ninguém se opunha ao pai ou mãe que batia no filho. Por vezes num descontrolo, em que já não era só castigar para educar, mas um descarregar de frustrações e azedumes.

Quando as dores das vergastadas, me faziam chorar, para além do ralho ou para atenuar a severidade do castigo, diziam: «Então! Então! Um homem não chora». Como num aliviar de consciência, que em mim surtia efeito, pelo facto de tantas vezes ouvir, que era feio um homem chorar.

Teria para aí oito anos, quando o meu irmão David, de três anos, morreu. Pela primeira vez vi o meu pai chorar. Junto à urna do meu irmão, o meu pai soluçava baixinho, confortado pelos vizinhos, sem resultado na minha opinião. Eu meio incomodado por ver o meu pai naquele estado, a ele me dirigi e com a autoridade de filho mais velho, profiro:

- Pare lá com isso! Não vê que é feio chorar. Um homem não chora!

No meu ombro uma voz amiga diz: - Deixa, Tonito! É pai! É pai!... E pai pode.

Lisboa, Janeiro de 2013

António Correia (Lorde)

Lorde
Enviado por Lorde em 14/01/2013
Reeditado em 06/05/2013
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