SEGREDOS
Ao abrir o portão, Jurema olhou no relógio: “Cinco e meia” de mais uma manhã; ou seria menos uma (?). Entrou em casa e cuidadosamente acordou Valentina que dormia no sofá da sala. “Tudo bem?” perguntou, “Tudo bem” respondeu a sonolenta babá que logo depois levantou, sorriu e se foi. Jurema agradeceu com um sorriso e foi até o corredor; abriu cuidadosamente a porta do quarto. Foi até o beliche. Primeiro beijou Adriano, o filho de seis anos. Ele instintivamente abraçou a mãe. Depois de um tempo, Jurema ergueu o corpo bem feito e ainda vestido com as roupas da “batalha”, até alcançar a outra cama onde Jennifer, a filha de treze anos, também dormia. Um beijo e o alerta: “Ta quase na hora” disse baixinho, lembrando o horário da escola. Com cuidado saiu do cômodo e foi para o seu quarto. Sentou-se na cama; tirou da bolsa uma sacola; contou o dinheiro: Mil e cinqüenta reais de uma noite “Mais ou menos”. Lembrou-se vagamente dos corpos; dos odores; dos bafos; dos palavrões; das pancadas e do medo. “Quando tudo isso vai acabar?” era a pergunta de todas as manhãs, mas que não sabia responder... Foi para o banheiro; Olhou-se no espelho: Ainda era uma mulher bonita, mas não como antes. “Até quando mentir para os filhos e para a vida?”... Abriu o chuveiro e permitiu-se num ritual próprio de “purificação” em que a água se misturava com secreções e lágrimas de um choro por ter conseguido rever os filhos em mais uma manhã.