Quase-Romance

Ana caminha pelo shopping. Vestido novo! Sapato da moda. Um penteado diferente, parecido com o que viu em uma atriz de novela. Acaba de assistir um filme do momento. Um pouco de aventura e drama com pingos de romance. Desfila pelos corredores rindo com suas amigas. Tem um belo sorriso. Um sorriso franco! Típico de garotas sonhadoras. É jovem, tem cerca de 20 anos. Estuda. Não tem namorado. Faminta caminha apressadamente em direção à saída! Depois do cinema nada como uma pizza. É aí que percebe a presença de Fernando.

Fernando está sentado em um banco, de frente às escadas rolantes, com um amigo. Veio ao shopping para espairecer. É alto, bonito, tem um olhar atraente. Já passeou pelas lojas, já conversou com os amigos e comeu um BigMac. Está parado, pensando na vida e vendo quem passa. Nada de interessante. Sempre as mesmas pessoas carregadas de compras. Alguns sorrisos de consumo! Outros olhares e pernas cansados. Mas então ele percebe a existência de Ana.

“Nossa! Que olhar!” pensa Ana.

“Caramba! Que sorriso!” pensa Fernando.

“Rapaz bonito.”

“Garota interessante.”

Em uma fração de segundo Fernando abre um sorriso cativante, do tipo que nenhuma garota costuma resistir.

“Ó meu deus! Será que ele sorriu pra mim? Não, não pode ter sido! Ou pode?”

“Será que ela me viu?”

“Será que eu devo falar com ele?”

“Acho que vou atrás dela.”

“Não, ele não sorriu para mim. Há tantas garotas por aí...”

“Não, ela não deve ter se interessado!”

Ana come sua pizza. Vai para casa. Continua se lembrando do sorriso misterioso. Só pensa no que poderia ter feito.

“Será que aquele sorriso foi para mim? Eu deveria ter me sentado do lado dele! E se ele fosse o cara certo...”

Fernando não tira da cabeça o sorriso da garota. Uma pontada de orgulho ferido. Um pouco de arrependimento pelo que não fez.

“Cara, será que ela não gostou de mim? Deve se achar demais! Eu deveria ter falado com ela... Aquele sorriso, não é todo dia que se vê por aí! E se fosse ela...”

Naquela noite os dois demoram um pouco para cair no sono. Ana não sonha com nada. Fernando sonha que passou na última fase de um jogo qualquer. Mais um dia se passa. Mais uma chance de encontrar o amor se esvai. Amanhã Ana reclamará, pois “Não há um homem que preste no mundo!” e Fernando se queixará, afinal “Nenhuma mulher quer um compromisso sério!”

Assim é o livro da vida moderna! Um conjunto de contos de quase-alguma-coisa.

(11 de janeiro de 2012)