FAZENDO A VOLTA

Deixou a porta bater às suas costas. Tão revoltada, cansada de tudo, Jane resolveu que não voltaria para casa.
Em sua bolsa, duas mudas de roupas, documentos e o pouco dinheiro que juntara depois de meses de trabalho.
Trabalhara por longos anos numa casa, mas sua patroa morrera e simplesmente a família acertou as suas contas e disseram que a casa foi vendida e não mais precisavam dos seus serviços.
Numa frieza de quem não se importa com os problemas alheios, ela percebeu que tudo já estava armado, apenas esperando o desenlace de dona Marta, a única pessoa naquela casa que a tratava como gente.
Os filhos tinham apenas um interesse, comer boa comida e alguém que limpasse a sujeira que deixavam. Quando perceberam que ela não se interessou pelos avanços indecorosos, deixaram-na de lado como um objeto inútil.
Em sua casa, a família não era muito melhor. Sua mãe, sempre cansada e aos resmungos, apenas lhe dirigia a palavra para perguntar sobre o pagamento, pois o salário do pai dava apenas para as despesas mais urgentes dos seus cinco irmãos.
Os mais velhos, já adolescentes, nada fazem para ajudar e sua mãe ainda a critica quando chama a atenção dos “seus meninos”. Jane, está cansada de sustentar a todos, sem receber nenhum carinho em troca.
Hoje, a primeira terça-feira depois do ocorrido, Jane vai ao escritório do contador para finalmente receber o que lhe é devido. Depois pretende enviar para a mãe uma parte desse dinheiro, com um bilhete dizendo que pretende viver sua vida em outro lugar, mas nem ela mesma sabe onde.
Cabisbaixa, Jane vai seguindo pela rua em direção ao ponto do ônibus. Quando de repente, ao sair da calçada da facilitar o trânsito pisa numa pedra que parece servir de peso para um papel. Abaixa-se para pegá-lo, desdobra-o e lê a mensagem meio borrada: “O CAMINHO DA FELICIDADE PASSA POR PEDRAS SOLTAS E PONTIAGUDAS”.
Jane, olha para um lado, para o outro e acha estranho porque ninguém mais havia percebido aquela pedra solta no chão.
Pega o papel e depois de ler várias vezes, guarda-o como um tesouro, um sinal. Para ela, aquela mensagem é como uma chave, só não sabe para onde, nem  porque.
Chega ao ponto e entra no ônibus para ir ao contador. Pensativa, quase perde o seu ponto final.
Caminhando vagarosamente, entra no prédio e dirige-se ao escritório do contador.
Lá chegando, identifica-se, recebe seus documentos devidos e depois é levada à sala do Dr. Alceu, que a conhece das visitas que fazia à dona Marta, por cuidar dos bens dela.
Jane, assustada, não podia imaginar o que mais poderia acontecer na sua vida, depois de tudo.
Dr. Alceu, percebendo sua palidez, a convidou para sentar e tomar uma água.
Sorrindo, ele começou a lhe contar que há muitos anos além de cuidar dos bens de dona Marta, seu contador e advogado, era também amigo íntimo e sabia de tudo o que naquela casa acontecia.
Então começou a dizer do carinho que dona Marta tinha por ela e que lhe deixara uma recompensa, de forma que ninguém da família pudesse lhe tirar.
Havia uma casinha, numa vila muito tranquila, que dona Marta possuía desde mocinha e lá viveu o quanto pode, saindo para o casamento, mas que a conservou com amor e carinho, pois sempre que podia passava algumas horas lá.
Depois da morte do marido, foi diminuindo até não ir mais, mas o local sempre foi bem conservado como novo.
E ainda sorrindo, dr. Alceu disse a Jane que a casa agora é dela, assim como uma pequena soma em dinheiro que foi colocado numa conta em seu nome.
Uma herança deixada por dona Marta pelos anos de carinho e dedicação de Jane.
Com esse dinheiro a moça poderia se acomodar na casa e buscar um novo emprego e também concluir seus estudos, como é o seu sonho.
Havia também uma carta em que dona Marta dizia que sabia de tudo que Jane passava e que jamais deixaria as coisas saírem dos trilhos com os filhos, pois os observava de onde estava. E dizia também que agradecia a Jane por nunca tê-la deixado sem assistência, pois sem ela sua morte já teria acontecido muito antes.
Quando dr Alceu terminou, Jane quase não controlava o pranto. Trêmula e com sorriso tímido, ela agradeceu ao velho senhor, com um longo abraço.
E recebendo a chave do seu novo palácio, Jane lembrou-se da mensagem e resolveu que próximo ao seu endereço haveria de deixá-la embaixo de uma pedra para que alguém a encontrasse.

Estrela Radiante
"Imagem do google"
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Regina Madeira
Enviado por Regina Madeira em 10/01/2013
Código do texto: T4077767
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