Sequestro entrelinhas

A minha casa é a mais cara do bairro, um lugar pacato, onde só moram pessoas de bem. Meus pais têm sua própria empresa, por isso, eles estão mais em casa nos finais de semana.

Da janela do meu quarto vejo sempre a movimentação dos vizinhos e da banca de jornal de dona Fátima Zoraide, uma coroa extrovertida - que sempre acaba comendo todos os bombons que vende na banca e nas horas vagas ela se diz ser vidente, sabe lá.

Quando vou à praça que fica perto da banca de jornal, quase sempre encontro com o Sr. Garramudo, um coroa sanguíneo, que passa horas a fio contando antigas histórias sobre o bairro, os antigos vizinhos e sobre seu ex-amigo Silva. Ele conta que Dorisgleison Silva ( Sr. Silva) é um ex-investigador da policia, com um morto em seu passado, afirmando que o Sr. Silva parou no tempo e não havia nenhuma perspectiva de futuro para ele.

O Sr. Silva é um coroa introvertido e sensorial; quase todo o dia vai à banca comprar jornal. Ele senta num banco ao lado da banca e ali ler seu jornal.

Aos 12 anos minha rotina era sempre a mesma: colégio, kumon e karatê ( duas vezes na semana), até que um fato mudou a minha vida... Como de costume, era final de tarde, eu desci até a sorveteria do Mezzo, fui na banca de jornal, passei pelo sr. Silva e fiquei na praça por uns minutos conversando com o sr. Garramudo e subi a rua.

A rua estava deserta, senti um calafrio. Havia um carro preto, desconhecido estacionado na esquina. Não sei o que houve de repente me senti perdendo a consciência, acho que sem motivo não tive forças pra andar ligeiro para casa e fui me agachando no passeio. Repentinamente as portas do carro se abriram e dois homens vieram em minha direção, me agarraram e me puseram dentro do carro. Era um seqüestro. Logo os bandidos entraram em contato com o meu pai; na carta eles exigiam 500 mil dólares como resgate em pouco tempo, senão me matariam.

O sr. Silva vendo a aflição de meus pais se dispôs em ajudar. Ele investigou de ponta a ponta o bairro e vizinhos, achando pistas – metade do bombom “Boa Noite Cinderela” que eu comi - e testemunhas que levavam mais perto dos bandidos. E o ex-investigador de ânimo frio conseguiu chegar ao desfecho do seqüestro. Ele encaixou as peças do seqüestro, foi em direção as pistas e deflagrou o cativeiro onde eu estava. Apesar de estar com os braços machucados sai de lá bem, porém, estarrecido porque quem me seqüestrou e machucou foi aquele que se fez e dizia ser meu amigo... O bandido Garramudo.

Laís Martins
Enviado por Laís Martins em 09/01/2013
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