PARA UM MUNDO MELHOR

Uma senhora, que mora aqui pelos lados da minha casa, é singular.

Quase sempre está acompanhada de duas crianças, que puxa pelas mãos.

São seus netos.

Bonitas, comportadas, educadas e bem cuidadas.

Por isso, aonde vão arrancam elogios.

Aos quais, a senhora, afetada, responde com uma inacreditável frase:

"Em casa fazemos questão de educar à maneira européia".

Ora, pois, pois...

O que será "educação européia"?

Na Inglaterra e na França, castigos físicos em casa ou na escola, são aceitáveis.

Na Itália e na Espanha é perfeitamente normal criança beber vinho. Até como merenda escolar.

Os netos dessa mulher não parecem que são tratados na cachaça e na porrada.

Cumprimento-a pelo bom resultado.

Mas, não é essa a razão das minhas linhas.

É que dia desses, estava chupando umas uvas sem caroços, deslizando na tranqüilidade da vida, quando vejo essa criatura a caminhar na calçada, magérrima, alta, saia longa, florida, chale no pescoço, boca vermelha, toda urgente, carregando uma cartolina azul na mão.

Parou no portão da escola que há quase em frente da minha casa.

Sacou uma fita adesiva da bolsa de tecido que trazia a tiracolo e pregou a cartolina no muro.

A curiosidade que matou o gato, um dia haverá de me matar.

Ela foi embora e eu fui ver o que havia na cartolina.

Estava lá o decreto:

"Regras para um mundo melhor:

- não cortar árvores;

- plantar árvores;

- manter os rios limpos;

- não fazer queimadas;

- tratar bem os animais;

- não fazer barulho;

- jogar o lixo no lixo".

Beleza!

É bom saber que tem gente preocupada com nosso bem estar.

Volto para o meu canto.

Mas minha atenção para com as uvas dura pouco.

Logo vem a mulher de volta.

Toda urgente.

Pára na frente da sua cartolina, remexe na bolsa e tira uma caneta pincel.

Escreve algo no cartaz.

Termina, dá mais uma geral no resultado do seu trabalho e sai triunfante, com cara de quem acabou de salvar o planeta.

Espero ela virar a esquina e vou ler o seu último mandamento:

"Não jogar papel higiênico na privada".

Mas que diacho!

O que deve ter acontecido para ela de última hora se lembrar dessa regra tão importante da nossa cultura?

Imagino, talvez, que ao voltar para casa tenha ido ao banheiro e foi surpreendida.

De repente, tocou-lhe a impressão de que os seus netos estavam europeus demais para o seu gosto.

Gente civilizada não coleciona papel higiênico sujo no banheiro.

Joga na privada e dá a descarga.

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- Papel higiênico é mesmo para jogar no vaso sanitário. A gente dá tchauzinho, aperta a descarga e ele vai para sempre, deixando um vazio na nossa vida.

Padrões de fabricação, (qualquer que seja a sua qualidade), são seguidos para que se dissolva com a água.

- Entretanto, tem que existir onde você mora, esgoto dentro das normas técnicas da engenharia e estação de tratamento na região.

- Papel higiênico no saco plástico contamina mais o ambiente do que diluído no esgoto. Mesmo quando o lixo vai para o aterro sanitário.

Isso porque o saco plástico leva décadas para ser decomposto pela natureza.

- Claro, desnecessário dizer que a pessoa não pode exagerar na quantidade de papel jogado de uma só vez no vaso.

- Se duvida, consulte o Google, a Sabesp e sites que cuidam do nosso planeta Terra.

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Devo ter exagerado no vinho.

Só isso explica ter escrito sobre tema tão absurdo.

Se você chegou até aqui: obrigado pela leitura.

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Sajob - jan / 2013