Ele [NÃO] tinha tudo!
Tinha tudo!
Tinha tudo?
Tudo mesmo?
Tinha?
Não!
Não tinha tudo.
Mas vivia como se tudo o que precisasse estivesse ali.
À sua volta.
Dentro de si.
Escondido em alguma parte do seu coração.
Ele -no fundo- sabia que no fundo
Não, ele não tinha tudo.
Tinha o necessário.
O pouco que a gente adquire -aos poucos- nessa vida tão corrida.
E mesmo não tendo pressa, a vida tinha pressa em passar.
Em se reinventar.
Em acabar, para que assim, um novo ciclo pudesse começar.
Aqui.
Ali.
Além.
Ao acordar, tinha consigo mais do que podia imaginar.
Tinha pela frente um caminho novo.
Um tempo novo.
Uma chance nova.
Es-pe-ran-ça!
Dessas que nos invade o peito e enche o nosso pulmão de ar.
Dessas que enche os nossos olhos de lágrimas.
Dessas que enche nossa vida de fé.
Dessas que nos faz acreditar.
Dessas que nos faz dizer - Eu, vou conseguir vencer!
Dessas que enche o nosso coração de amor para se plantar no solo infértil que, por cina, temos que seguir.
Caminhar, até um dia chegar em algum lugar.
Qualquer lugar!
Um lugar certo, perdido no horizonte incerto do nosso olhar.
Ou no de outro alguém.
Nessa vida necessitada de mais vida que carregamos em nós.
Nessa vida necessitada de mais cor.
Nesse mundo incolor.
Onde qualquer tinta serve.
Onde o desbotar na chuva, deixa transparecer a dor.
Ao se deitar, já não tinha mais consigo o que tinha ao acordar.
Não tinha nada.
Tinha incertezas.
Inseguranças.
Dúvidas.
Receios.
Medos.
Tinha cansaço de um labutar árduo.
De uma vida incensante.
Um peito sem o fôlego da certeza.
Um olhar sem o brilho da esperança.
Uma noite adentro, sem o alento do dia que acabara de começar e agora, por fim, havia de se findar.
Novamente!
E ele não tinha tudo!
Não tinha tudo?
Não mesmo?
Não!
Ele tinha tudo!
Tudo o que precisava.
Tudo o que não lhe faltava.
Tudo o que o moveria a conseguir, naquele dia ou no outro enfim, o que lhe faltava adquirir.