Conto: O Pianista e o Metrô

Ele. 42 anos. Aprendeu a tocar piano aos 12. Era considerado menino prodígio. Para ele, tocar era como respirar. Parecia que já vinha com o nascimento o chip de pianista. Seus pais não entendiam nada de música. Foi uma tia, que comprou o primeiro instrumento musical, um violão. Tinha 8 anos até então. Depois, na casa de um amigo que tinha piano de cauda se deu o encontro. Sentou sozinho, os pais do amiguinho de escola, tinham saído. tinham o maior xodó do que consideravam a maior relíquia de família.

Quando viu o piano com sua elegante cauda ele sentiu um regozijo tão grande que ficou atraído e convidado pelo próprio dentuço a tocar os dentinhos. Ao dedilhar a primeira tecla, ele sentiu que estava passando a mão no seu cachorrinho de estimação que quando acariciado a barriguinha, mexia a perninha.

Logo que chegou em casa implorou para a tia que o colocasse na aula. A professora ficou impressionada como ele pegava rápido as partituras para iniciante. Queria logo as mais difíceis. Depois disso nunca mais largou o que ele chamava de O Grande Companheiro.

Se tornou homem formado. Era integrante da orquestra filarmônica de Berlim. Isso mesmo. com o seu grande companheiro conhecera vários países do mundo. Fazia também apresentações solo. Os grã-finos pagavam caro para assisti-lo em teatros charmosos e pomposos. O silencio da platéia era ensurdecedor. Ali, somente as notas musicais gostosamente em harmonia tilintavam no espaço.

Ele era um sujeito simples e espartano. Gostava de observar o céu. Pelas manhãs contemplava as nuvens. A noite contemplava a negritude do céu geralmente ofuscada pelas luzes da cidade que nunca dormia. Seu rosto não era muito de feições drásticas e sofridas. Parecia que estava em plena serenidade. Tinham uma pele branca e cabelos com fios brancos despontando. Não era magro nem gordo. Não tinha religião definida, mas era de uma percepção muito sutil espiritualmente. Para ele a música eram orações divinas, que somente ouvidos abençoados entendiam o que diziam. Usava roupas sempre do mesmo estilo quando não estava em apresentação. Camisa de malha com jeans e um all star. Assim se sentia em coerência com sua jovialidade.

Gostava de andar de metrô pois ali se sentia vivo em meio a multidão. Aquele burburinho do corre corre ansioso. Costumava pegar sem dstino itinerários desconhecidos. Ida e volta logo depois. Ficava em pé olhando a fisionomia das pessoas. Algumas tristes. Outras alegres. A maioria insonsas.

Depois de anos tomou uma decisão de oferecer um pouco do seu dom para os transeuntes. Com suas vestimentas do cotidiano, arrumou um órgão e colocou no meio do salão do metrô. Um amplificador. Mozart, Bethoven entre outros que não sei escrever o nome foram ofertado ao público.

Com a mesma maestria e dedicação das apresentações ele começou a tocar. O som parecia que era o mesmo de um piano de calda. Misturava com sua intenção de levar o belo ao frenesi ambulante.

Pasmem. Foi pura decepção aos olhos artísticos. As pessoas nem olhavam para ele. Aquele Zé Ruela, pensavam, estava tocando muito mal. Apenas um mendigo o olhava com olhos divinos. Ele percebeu sua única platéia. Não fazia mal. Tocou de coração. Aquele morador de rua era digno de sua arte.

FIM.

Raphael Prisma Celeste
Enviado por Raphael Prisma Celeste em 04/01/2013
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