Morei em Caxias do Maranhão de 1983 a 88, na rua do Cisco que, na verdade, era uma das mais limpas. Em sua continuação, logo após a praça Vespasiano Ramos, o filho mais famoso depois de Gonçalves Dias, ficava a rua direita que era torta e dava na Br., saída para Teresina ou em sentido contrário, para São Luís.
Defronte a minha casa ficava o Plaza Hotel, aquele que, quando solteiro, fui hóspede durante mais de um ano. Naquela época, Antônio trabalhava como vigia. Ele, dois ou três anos mais novo do que eu e recém casado. Algum tempo depois de conhecê-lo, também me casei e minha filha mais velha já tinha uns três anos, falava com desembaraço e lia algumas frases curtas e ou palavras soltas, quando, aquele conhecido de alguns anos, me deixou sensivelmente emocionado:
— Quero falar uma coisa com o Sr., mas estou com vergonha.
— Podes falar, Antônio! Somos amigos há tanto tempo, não tem porque se envergonhar.
— Quero que o Sr. Batize minha filha. Ela se chama Kaaatren Suzi.
— Será um prazer, compadre. E estendi-lhe a mão.
Desde a primeira vez que Antônio se me aproximou, para conversar dei-lhe muita atenção, talvez por ele ter o mesmo nome de meu pai. E a partir de então, passou a visitar-me nos dias de folga. Bebíamos quatro ou cinco cervejas tirando gosto com panelada, que mais tarde vim a saber que em outros lugares chamam de dobradinha.
Estava feita a dobradinha. Todo final de tarde, mesmo de serviço ele vinha para conversar e marcar uma visita para seu dia de folga. E vinha mesmo! Não falhava, nem tardava. Certo dia, veio trazendo a esposa, cujo nome não me recordo, porque mais de trinta anos se passaram.
Todos os dias, quando eu estava na janela, Antonio aparecia. Ficava de olho no hotel, que, a partir de certa hora da noite, ele era ao mesmo tempo, vigia e porteiro. Aconteceu que minha filha passou a imitá-lo, gaguejando. Não para zombar, minha filha o imitava talvez por achar bonito, diferente, curioso ou muito interessante aquele modo de titubear, tropeçar nas palavras , repetindo pedaço de sílabas.
Ah, ia-me esquecendo. Fomos os padrinhos de Kátia. Depois da missa, e batizado a festinha, com bolo de primeiro aniversário, cerveja, almoço e refri. Tudo lá em casa. Às custas de quem? Lógico, dos padrinhos: eu e minha mulher. E como minha mulher não trabalhava...
Que fazer com o compadre gato? Minha filha gaguejando e o compadre, o dia, de serviço ou de folga, postava-se em minha janela no entardecer. E se eu não estava na janela. Ele batia palmas até alguém atendê-lo.
— U-u-u cumpadre está?
Então, eu tinha que aparecer na janela. Não o convidava a entrar e trazia a cerveja para a janela, preocupado.... Ainda assim, minha filha ficava rondando por ali, prestando atenção em nossa conversa, principalmente, na fala dele...
Foi quando resolvi parar com.
— Nois num vamo tomar uma cervejinha hoje não cumpad.
— Não, compadre. Fiz uns exames de rotina e o médico me proibiu beber. Estou engordando muito e o colesterol alto.
E com esta conversa, com esta enrolação...
Bem o compadre mudou-se para Brasília DF. Perdemos o contato e minha filha parou de gaguejar.
Já no ano dois mil e alguma coisa, aproximadamente doze ou quinze anos depois. Eu morando em Minas, atendi a uma ligação telefônica.
— Alô!
– A-a-alô! Sabe quem taaá falano?
—É o compadre Antônio, respondi.
— Coomo é o Sr. Acertou. É-é-éle mesmo?
Defronte a minha casa ficava o Plaza Hotel, aquele que, quando solteiro, fui hóspede durante mais de um ano. Naquela época, Antônio trabalhava como vigia. Ele, dois ou três anos mais novo do que eu e recém casado. Algum tempo depois de conhecê-lo, também me casei e minha filha mais velha já tinha uns três anos, falava com desembaraço e lia algumas frases curtas e ou palavras soltas, quando, aquele conhecido de alguns anos, me deixou sensivelmente emocionado:
— Quero falar uma coisa com o Sr., mas estou com vergonha.
— Podes falar, Antônio! Somos amigos há tanto tempo, não tem porque se envergonhar.
— Quero que o Sr. Batize minha filha. Ela se chama Kaaatren Suzi.
— Será um prazer, compadre. E estendi-lhe a mão.
Desde a primeira vez que Antônio se me aproximou, para conversar dei-lhe muita atenção, talvez por ele ter o mesmo nome de meu pai. E a partir de então, passou a visitar-me nos dias de folga. Bebíamos quatro ou cinco cervejas tirando gosto com panelada, que mais tarde vim a saber que em outros lugares chamam de dobradinha.
Estava feita a dobradinha. Todo final de tarde, mesmo de serviço ele vinha para conversar e marcar uma visita para seu dia de folga. E vinha mesmo! Não falhava, nem tardava. Certo dia, veio trazendo a esposa, cujo nome não me recordo, porque mais de trinta anos se passaram.
Todos os dias, quando eu estava na janela, Antonio aparecia. Ficava de olho no hotel, que, a partir de certa hora da noite, ele era ao mesmo tempo, vigia e porteiro. Aconteceu que minha filha passou a imitá-lo, gaguejando. Não para zombar, minha filha o imitava talvez por achar bonito, diferente, curioso ou muito interessante aquele modo de titubear, tropeçar nas palavras , repetindo pedaço de sílabas.
Ah, ia-me esquecendo. Fomos os padrinhos de Kátia. Depois da missa, e batizado a festinha, com bolo de primeiro aniversário, cerveja, almoço e refri. Tudo lá em casa. Às custas de quem? Lógico, dos padrinhos: eu e minha mulher. E como minha mulher não trabalhava...
Que fazer com o compadre gato? Minha filha gaguejando e o compadre, o dia, de serviço ou de folga, postava-se em minha janela no entardecer. E se eu não estava na janela. Ele batia palmas até alguém atendê-lo.
— U-u-u cumpadre está?
Então, eu tinha que aparecer na janela. Não o convidava a entrar e trazia a cerveja para a janela, preocupado.... Ainda assim, minha filha ficava rondando por ali, prestando atenção em nossa conversa, principalmente, na fala dele...
Foi quando resolvi parar com.
— Nois num vamo tomar uma cervejinha hoje não cumpad.
— Não, compadre. Fiz uns exames de rotina e o médico me proibiu beber. Estou engordando muito e o colesterol alto.
E com esta conversa, com esta enrolação...
Bem o compadre mudou-se para Brasília DF. Perdemos o contato e minha filha parou de gaguejar.
Já no ano dois mil e alguma coisa, aproximadamente doze ou quinze anos depois. Eu morando em Minas, atendi a uma ligação telefônica.
— Alô!
– A-a-alô! Sabe quem taaá falano?
—É o compadre Antônio, respondi.
— Coomo é o Sr. Acertou. É-é-éle mesmo?