MEU FILHO... MEU AMANTE...

― Lembro-me muito bem daquela noite em que ele veio aqui pela primeira vez. Era uma sexta-feira. Eu estava sentada ali naquele sofá conversando com uma amiga, quando de repente olhei para a porta e o vi lá, parado, olhando para dentro do salão.

Estávamos sentados ao redor de uma mesa pequena, redonda, toda entalhada em estilo barroco. Um vaso de uma cor azul meio fosca repousava sobre a mesa ostentando um belíssimo arranjo de rosas alaranjadas. Duas cadeiras, nas quais estávamos sentados, de espaldar alto, igualmente entalhadas e de encosto e assento de veludo vermelho, juntamente com a mesa e a cortina de tom alaranjado ao fundo, formavam um nicho aconchegante nesse canto do amplo salão.

Levantou-se, foi até o bar, que ficava do outro lado do salão. “Bebe alguma coisa?”, perguntou-me. “Um uísque, com duas pedras de gelo”. Preparou dois uísques, voltou para a mesa onde eu estava e ofereceu-me um copo. Não se sentou à mesa, tomou um gole do uísque, “Vamos sentar no sofá, é mais confortável”. Levantei-me e a segui. Sentamo-nos. “Onde comprou estes sofás? Nunca vi desse tamanho”. Usava um par de tamancos pretos de salto alto. Tirou-os, sentou-se com os pés sobre o sofá, segurando as pernas com os braços. Estava usando uma calça jeans claro e uma blusa preta, de mangas três-quarto e decote bem marcante. A blusa, justa, seguia os contornos dos seios fartos, redondos e da cintura fina. Os cabelos, castanho-claros, caíam-lhe em grandes cachos por sobre os ombros. Deu-me um largo sorriso, os dentes brancos, emoldurados por lábios, grossos, vermelhos, “Gostou deles? Mandei fazê-los desse tamanho especialmente para pô-los aqui”. Eram dois sofás, enormes, cabiam cinco pessoas em cada um. Eram feitos de tecido, com desenhos de flores em alto-relevo, mas tudo de uma só cor, em tom de vinho. Almofadas de cor palha recostavam-se calmamente por sobre eles e, ao chão, da mesma cor das almofadas, estendia-se um majestoso tapete. Uma mesa de centro, com um pequeno vaso de uma bela orquídea violeta e dois cinzeiros de cristal, e duas mesinhas laterais, com abajures, cujos suportes eram figuras humanas, completavam a mobília deste aconchegante living que ficava entre quatro pilares, em forma de colunas romanas.

― Bem, como eu estava dizendo, ele estava lá, parado à porta. Ficou acho que uns dez minutos assim, apenas olhando. Minha amiga, que também já o tinha visto fez um comentário, “Olhe, Ana, lá na porta, que menino bonito”. “Eu vi” disse a ela, “é muito bonito mesmo. Eu vou lá conversar com ele”. Ele era muito bonito mesmo. Era alto, devia ter quase um metro e noventa. Cabelos pretos, fartos, cortados ao estilo desses meninos que usam os cabelos meio despenteados, meio arrepiados. O rosto, de formato quadrado, tinha algumas espinhas que estavam começando a nascer, mas tinha a pele clara. Os olhos pequenos eram verdes, com sobrancelhas bem delineadas. Usava uma calça jeans preta, camiseta e sapatos também pretos. Era jovem, devia ter por volta de dezoito ou dezenove anos. Tinha uma expressão séria.

Nesse momento entrou uma mulher. “Com licença, volto logo”, levantou-se e foi conversar com a mulher que havia entrado. As duas sentaram-se na mesa onde antes nós estávamos. Enquanto ela conversava, levantei e dei uma olhada por todo o salão. Era tudo muito bonito, cada móvel, cada objeto tinha um charme, um encanto especial. O ambiente que descrevi, como já disse, ficava entre quatro colunas. De um dos lados do L formado pela disposição dos sofás, ficava a porta de entrada, e do outro lado, o bar. Atrás do sofá que dava de frente para a porta, estava a mesa, onde agora ela conversava com a outra mulher. E atrás do outro, havia um espaço amplo, com pequenas mesas redondas com quatro cadeiras cada uma, e com toalhas de renda brancas, que iam até o chão. Contei dez mesas. Frente às mesas, o palco, não muito grande, onde aconteciam os shows. Havia também ao lado do bar, uma escada que levava ao andar superior, que ela me levou para conhecer depois, onde ficavam os quartos, seis no total, e dois banheiros. Com certeza devia ter uma cozinha, uma despensa ou adega, mas eu não vi.

Eu nunca havia entrado naquela casa, tampouco conhecia Ana, a proprietária. Mas quando eu soube do que havia acontecido, resolvi ir lá conversar com ela. Achei muito interessante essa estória.

Depois de uns vinte minutos a mulher foi embora. “Quer mais um uísque?”, perguntou-me, dirigindo-se ao bar. “Não, obrigado”. Eu havia me sentado novamente. Preparou outra dose de uísque para ela, voltou e sentou-se ao meu lado.

― Quando cheguei perto dele, deu-me um sorriso e disse um “oi” tímido. “Olá, vamos entrar! Qual seu nome?”, estendi a mão para cumprimentá-lo. Pegou minha mão e beijou-a muito gentilmente, “Me chamo Eduardo”. Tinha uma voz bonita, forte. Entramos, sentamo-nos. Minha amiga levantou-se, cumprimentou-o e foi conversar com um homem que estava sentado a uma das mesas perto do palco, sozinho. Ficamos um bom tempo ali, conversando. Contou-me que era seu aniversario, estava completando dezenove anos. Estava fazendo faculdade de Direito, morava apenas com a mãe, o pai havia falecido já há cinco anos.

Bem, não vou entrar em detalhes sobre o que aconteceu depois, você já deve imaginar. No dia seguinte, acordei por volta de dez horas da manhã. Levantei, coloquei meu robe, fui até a janela, abri a cortina. Olhei para a cama, seu corpo nu repousava ainda adormecido. Fiquei uns minutos ali, parada, admirando-o. Então voltei para a cama, deitei-me em cima dele e dei-lhe um beijo na nuca. Acordou, virou o rosto, não disse nada, apenas sorriu. Deitei-me ao seu lado, “E aí, meninão, não vai levantar? Já está tarde!”, eu estava passando a mão pelos seus cabelos. Virou-se para mim, olhou-me bem nos olhos e deu-me um beijo. Eu estava enganada quanto à timidez que pensei que ele tivesse, quando entrou no salão na noite anterior. Quando foi embora já eram quase duas horas da tarde.

“Você nunca esteve aqui antes, esteve?”, ela me perguntou de repente, interrompendo a estória que contava. “Não, nunca estive”. Então levantou-se, calçou os tamancos, “Vamos lá pra cima, vou mostrar-lhe os quartos”, pegou minha mão e puxou-me. No andar superior, as escadas davam para um corredor comprido, não muito estreito, com três quartos e um banheiro de cada lado. De mobília, apenas dois aparadores, um próximo à escada, e outro no final do corredor. Os quartos, todos tinham uma cama de casal, um armário embutido, um criado-mudo ao lado da cama e uma penteadeira. Tudo decorado com muita elegância e sofisticação. Num dos quartos que entramos, no fim do corredor, ela sentou-se sobre a cama, do mesmo modo que tinha sentado antes no sofá, com os pés sobre a cama, os joelhos juntos, os braços segurando as pernas. “Sente aí”, indicou-me um lugar na cama com um gesto de cabeça. Sentei-me, “Quantos anos você tem? Parece tão nova!”. Soltou as pernas, ajeitou-se para ficar sentada com as pernas cruzadas, como se tivesse fazendo yoga, “Trinta e sete”. Deu um profundo suspiro.

― Não sei por que, mas este é o quarto de que ele mais gosta. Faz seis meses já que ele está vindo aqui. Tem vindo praticamente todas as noites, sai da faculdade e vem. Diz que está plenamente apaixonado por mim. E eu por ele. Pra falar a verdade, ele é a primeira pessoa com quem eu me relacionei, e de quem eu gosto realmente. Estamos vivendo seis meses de uma paixão ardente, maravilhosa. São momentos de amor intenso, inesquecíveis.

“Mas...”, não deixou que eu continuasse. “Não precisa dizer nada, sei muito bem o que você está pensando”, levantou-se da cama, foi até à porta, fechou-a, voltou e sentou-se novamente.

― Ela entrou aqui aquela tarde aos berros, feito uma louca, chamando por ele. Era um sábado. Eduardo e eu estávamos sentados no bar, tomando um drink. Tentamos acalmá-la. “Calma, mãe, o que foi que aconteceu, por que toda essa gritaria?”, ele estava segurando-a pelos braços. Num movimento brusco, ela se soltou, virou-se para mim e deu-me um tapa no rosto. “Essa... essa...”, estava muito nervosa, exaltada, “essa mulher com quem você esta tendo um caso, Eduardo... ela é sua mãe verdadeira, não eu”. Ele não disse nada, ficou ali parado, olhando para mim, um segundo que pareceu uma eternidade. “Não, Eduardo, espere...”, foi a única coisa que consegui dizer antes dele sair correndo porta afora, e ela atrás dele.

Passei o resto do dia e a noite tentando saber onde estava, o que tinha acontecido. Fiquei desesperada. Então, no dia seguinte, ele apareceu.

Sentei-me um pouco mais perto dela na cama. “Mas se ele era seu filho, como você deixou tudo isso acontecer. Como você foi ser amante do seu próprio filho? E o que aconteceu depois, como vocês estão agora?”. Levantou-se, andou pelo quarto, cabeça baixa, recostou-se no armário.

― Porque nunca poderia imaginar que Eduardo fosse meu filho. Quando engravidei, eu tinha apenas dezoito anos. Mas quando minha prima, a que criou o Eduardo como sendo mãe dele, soube que eu tinha tido um filho, ela veio aqui, pegou a criança e levou embora, dizendo que, por eu ser uma prostituta, não poderia criar um filho nas condições e no ambiente em que eu vivia. Na época, eu ainda não era dona daqui da casa, era apenas uma menina que trabalhava aqui. Precisava trabalhar em algum lugar, pois minha mãe havia me abandonado, quando eu tinha quinze anos, para ir morar em outra cidade com um homem que ela tinha conhecido. Então nunca mais vi meu filho. Só fiquei sabendo disso no dia que a Julia, minha prima, entrou aqui, dizendo que eu era a mãe verdadeira do Eduardo. Mas depois que ele voltou, no dia seguinte, nós conversamos muito sobre o assunto, e resolvemos continuar juntos, pois nos amamos muito, mas não como mãe e filho, e sim como amantes, afinal, ele nunca me viu como sua mãe, e eu nunca o vi, nem nunca o verei, como meu filho...

Erik McArthedain
Enviado por Erik McArthedain em 09/03/2007
Código do texto: T406410
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