O ACASO...

Iolanda era uma daquelas mulheres que, podemos definir, não teve sorte no amor. Já beirando os trinta, e apesar de sempre haver sonhado em ir ao altar, de branco, como Esmeralda na valsinha, de véu e grinalda, essa oportunidade não aconteceu. Agora, tendo já sofrido uma desilusão, entregando-se de corpo e alma a um frustrado romance que lhe parecia sério, lhe restava ficar vendo o tempo passar, à espera de um casinho ou outro, para dar vazão aos seus anseios sexuais.

A bem da verdade, Iolanda tinha poucos atrativos. Estatura baixa, gordinha, rosto comum, nada que chamasse a atenção. Recompensava tudo isso com uma fogosidade sexual intensa. Na prática do ato era um assombro. Entregava-se totalmente!

Todavia, mantinha um comportamento de pessoa discreta. Sua fama era de moça direita, e sua vizinhança, cheia de fofoqueiras, jamais a colocava entre aquelas mulheres dadas a aventuras amorosas. A única coisa que poderia acarretar certa suspeição, seria o fato dela viver, a maior parte do dia, no portão de sua residência. Era uma casa térrea cuja frente ficava no alinhamento da calçada, sem recuo, tendo um portão de entrada e um pequeno terraço antecedendo a porta. A rua, uma das principais do centro da cidade, com muito comércio, suportava um trânsito bem intenso, principalmente de ônibus. Na realidade, tornava-se uma distração para a Iolanda, esse movimento de pessoas e de veículos. E, sem dúvida, colocava-a como se estivesse numa vitrine, podendo ser vista, e, também, dava-lhe a oportunidade de um flerte com alguém que lhe interessasse.

Do outro lado da rua, um pouco mais acima da casa de Iolanda, entre os demais estabelecimentos comerciais, havia uma loja de calçados onde Joel trabalhava. Moço, vestibulando, com seus vinte anos incompletos, boa aparência, porém tímido, de quando em quando estava na porta da loja para apreciar o movimento da rua, ou angariar algum possível comprador de sapatos. Joel estava naquela fase em que não podia ver um “rabo de saia”, que a libido se manifestava. Já havia tido algumas experiências com sexo, inclusive visitado certas casas que exploravam o lenocínio. Para extravasar a excitação e desinibir.

Iolanda e Joel se descobriram! Um sorriso aqui, um aceno de mão ali, o flerte começou. Joel, como era de se esperar, ainda estava amarrado à timidez. Nada de se aproximar de Iolanda.

Então, aconteceu um fato inesperado.

Num determinado fim de tarde, ao se encerrar o expediente, fechando a loja, Joel presenciou uma cena que lhe abriu o caminho para chegar em Iolanda. Um conhecido empresário da região, homem de grande fortuna, de certa idade, passou com seu Cadillac preto, último tipo, conhecido como “rabo de peixe”. Velocidade a dez por hora, acionou a buzina defronte a casa de Iolanda, somente indo parar a uns cem metros adiante. A moça, parecendo já acostumada com o sinal dado, saiu de sua residência, toda arrumada, e disfarçadamente, procurando não dar na vista, dirigiu-se ao veículo, entrando pela porta traseira. Certamente, na primeira oportunidade, saindo da área movimentada, haveria ela de passar para o lado do motorista. O empresário era tido na cidade como sendo um dos maiores conquistadores de mulheres, um gabiru, apesar de pertencer à alta sociedade, ser casado, com família constituída.

Joel presenciou toda a cena, sem ser visto. O acaso lhe ajudou! A cena ensejou-lhe a possibilidade de chegar em Iolanda.

Passados alguns dias, ao fechar a loja num fim de tarde, o moço viu

Iolanda no portão e com um aceno pediu a ela para lhe esperar.

- E aí, tudo bem? Joel não conseguia esconder o nervosismo.

- Tudo. Custou para você vir falar comigo! Há um bom tempo estou esperando, bobinho!

Um olhar cheio de malícia deixou o rapaz anestesiado.

A intimidade com que foi recebido deu-lhe força para ir em frente.

- Quando é que podemos nos encontrar? Você gosta de sair?

- Claro, gosto de um lugar onde podemos ficar à vontade, sem que nos vejam, bem na intimidade. Conhece algum cantinho assim?

Logo, Joel se desinibiu totalmente. Já estava antevendo um bom programa com Iolanda.

Automóvel não era problema, pois seu pai possuía um Plymouth semi-novo. Naquele tempo, por volta do fim dos anos cinquenta, não existia motel. Mas, havia amigos que possuíam apartamentos alugados para fins desses encontros.

No primeiro destes, de imediato, Iolanda vendo-se com Joel na intimidade do automóvel, tomou a iniciativa de praticar toda sorte de carinho, deixando o companheiro completamente extasiado, e doido em estar livre para retribuir. Na cama foram momentos de intenso sexo, que duraram horas e horas.

Assim, os dois passaram a se encontrar semanalmente, até que, após alguns meses, Joel já frequentando a universidade, e bem traquejado na vida, não mais se interessou por Iolanda. Enjoou!

Soube, mais tarde, que a moça mudara de residência. Ao que consta, enfim se casara.

Ambos tomaram rumos diferentes, nunca mais se viram!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 31/12/2012
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