Inesquecível aniversário
Inesquecível aniversário
Não é costume da família japonesa comemorar o dia do seu aniversário. Isabela, uma colega de serviço, descendente de italianos, casada com um filho de japonês, ficava louca de raiva. O marido nunca lembrava do seu aniversário. Até que se foi habituando.
Eu mesmo somente ao chegar quase ao final da caminhada é que tenho, dada à insistência dos familiares e mesmo assim nem todos os anos, comemorado essa passagem,. Mas a primeira celebração, a gente nunca se esquece, é verdade. Principalmente se o acontecimento foi motivo de separação da primeira mulher.
Eu trabalhava numa multinacional japonesa, sediada lá no décimo andar do Conjunto Nacional, na Paulista. Éramos uns setenta funcionários, os chefes todos recém-chegados do Japão. A hierarquia era rígida. Se cruzássemos com algum deles no corredor, encostávamos na parede e fazíamos reverência. Na sala, ficávamos só uma moça, um rapaz e eu. Quase não conversávamos. O serviço era datilografar as faturas em cinco vias. Não se podia errar. Qualquer erro ocasionava outro trabalho mais dispendioso e custava pontos na sua avaliação. Se você tivesse dez pontos negativos no semestre, não recebia o tal bônus. Uma boa grana, na época. Por isso, a gente dispensava toda a atenção. A moça tinha uns vinte e poucos anos, e na época lembrava-me a Laura, uma das primeiras namoradas. Às vezes, almoçávamos juntos lá no térreo. Depois, visitávamos a Livraria Cultura, apreciando conjunto de música clássica. Nada além disso. Acima de tudo porque ela era amiga da minha mulher. Ambas tinham vindo de Bastos.
Aquele era um dia como outro qualquer, somente ao bater a data no formulário, lembrei que era o dia do meu aniversário. Como sempre, passaria em branco. Nem a mulher me cumprimentou pela manhã, nem os colegas da sala. Também ninguém sabia quando era aniversário do outro.
Só que a Martha – era como a colega se chamava – naquele dia parecia mais alegre, mais bonita. Até arrisquei um gracejo, dizendo: puxa, você hoje está bem mais vistosa. Ela sorriu, dizendo; você acha? E se afastou, lançando uma piscadela . Aquilo fez com que eu imaginasse coisas não muito recomendáveis para alguém casado.
Chegando quase ao final do expediente, a Martha se aproximou bem juntinho. Ajeitando a minha gravata, perguntou com aquela voz que achei mais suave do mundo: você não quer beber alguma coisa lá em casa? Ela morava no mesmo conjunto da ala residencial. Aceitei de pronto.
Ao chegar ao apartamento, disse-me sedutoramente: vou para aquele quarto arrumar as coisas. Dentro de cinco minutos você entra, ok?E de novo a piscadela.
Quando entrei no quarto, estava tudo às escuras. De repente, as luzes se acenderam e gritaram: SURPRESA. Lá estava a Martha e, junto dela, a minha mulher.
O problema é que eu, crente que seria uma noitada memorável, tinha tirado toda a roupa. E lá estava eu pelado ante duas mulheres estupefatas,