Um Cliente Especial...
Com a aproximação do Natal, lembrei-me de um cliente especial que durante muitos anos foi cliente pelo meu salão de beleza.
Na verdade, ex salão, pois hoje estou parada.
Foram vinte e oito anos em exercício na profissão.
Um cliente fiel, pois durante mais de doze anos, ele só cortava cabelo no meu salão.
Vez ou outra ele sumia, mas eu sabia que ele voltaría, pois em cada salão por onde passava ele brigava com o cabeleireiro.
Era muito inteligente, mas indiscreto e incoveniente.
Certa vez, ele me perguntou :_" Dona Maria, se alguém lhe chamar de prostituta a Senhora briga "?
Respondi-lhe que não.
E ele insistiu na pergunta.
Quis saber o motivo pelo qual eu não brigaría.
E eu lhe disse que não brigaría, pois eu não era uma prostituta, e se eu fosse, eu também não podería brigar.
Em outra ocasião, ele já não queria mais sair de casa.
Ligava para que eu pudesse atendê-lo em casa.
Eu sabia dos problemas que ele criava e que também enfrentava na cidade.
Por isso, nunca deixei de atendê-lo.
Mas certa vez, senti que ele estava mais nervoso que de costume.
Terminei meu trabalho, e voltei para o meu salão.
Onze da noite o telefone toca...
Era ele ! Me xingando muito e dizendo que eu estava fazendo caretas atraz das costas dele.
Fiquei muito brava e disse que nunca mais cortaría os cabelos dele.
No dia seguinte, ele apareceu na minha porta e me pediu desculpas.
Mesmo assim, eu disse para ele que não o atenderia mais.
Ele tentou outros salões, e não conseguiu ser atendido.
Voltou novamente para o meu salão, e passou a me presentear sempre com um livro.
E todo ano nas vésperas do Natal ele aparecia.
Após ser atendido, ele fazia questão de me dar um presente.
E meio sem jeito, ele me entregava o presente em dinheiro.
Dizia que por não saber comprar um presente do meu gosto, ele preferia que eu mesma comprasse.
É claro que eu ficava muito constrangida em pegar o presente, mas ele dizia:_" A Senhora foi a única pessoa que soube me entender e me suportar por tantos anos. Eu sei que sou uma pessoa difícil de lidar, mas não suporto que mexam comigo. Estou indo embora dessa cidade. Volto para a minha terra natal ".
Agradeceu-me, e se foi.
Hoje eu penso que se as pessoas tiverem um pouco mais de respeito e paciência com o seu semelhante, a vida se torna bem mais harmoniosa.
Quando meu cliente especial se foi, ele deixou saudades.
Não do presente Natalino, mas do muito que aprendi com ele.
Era um homem inteligente, que vivia com um livro nas mãos.
Aprendi a ser um pouco mais paciente e a respeitar o pensar de cada um .
Maria Lamanna
Rio Preto-MG