CORONÉ NÉZINHO.
CORONÉ NÉZINHO.
Coroné andando de lá pra cá, de cá pra lá, batendo com a ponta da bengala no assoalho da sala. Zédizefa debruçado na mesa entre jornais, envelopes, tinteiro, pena, mata borrão, lápis, borracha e cadernos, finalmente encontrou o que procurava:
- Tá aqui... A última carta que Zé do Bode mandou... Carnaíba do Sertão no dia vinte...
- Pule isto.
- Estou pegando na pena...
- Oxente! Pule os começos.
- O trem da Leste matou um bode de Quinzinho...
- Pule isso... Getulio Vargas preocupado com monopólio do petróleo e o besta preocupado com um bode... Siga.
- Democraticamente nas nossas democracias perdemos um eleitor a, pois que o Toínho roubou a mulher do Lalau e ele mais ela tomaram a garupa do trem da Leste no rumo dos mundos de São Paulo... Vou terminando mais essa pedindo as devidas desculpas pela letra...
- E não falou da chegada de Severino Cabeça de Égua mais a família na Carnaíba?
- Falou não.
- É... Pega o caderno e veja quantos eleitores nós temos no distrito.
Zédizefa abriu o caderno e mostrou:
- Veja o último número com os olhos do senhor.
Coroné leu o numero, bateu a bengala e perguntou:
- Nessa conta, você já tirou o Toínho?
- Sim... Sempre que chega uma carta com informação, lá da Carnaíba... Já boto os números em dia.
Coroné andou, desandou, foi ali, voltou pra aqui, pensou e decidiu:
-É... Zé do Bode não sabe manejar com as democracias... Os adversários tão é rindo de nossa cara... Lesbão, que é o cabo eleitoral deles na Carnaíba, tá é lavando a égua... A, pois eu mais tu tamos voltando pra Carnaíba do Sertão...
Zédizefa levantou tremendo e perguntando:
-O coroné tá doido?
Coroné olhou o Zédizefa de cima a baixo e disse:
- Tá se borrando seu cabra frouxo!
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(O DIABO NO TREM BAIANO- e-livro- RECANTO DAS LETRAS)