QUANDO SURTEI COM MEIO MILHÃO DE DÓLARES
QUANDO SURTEI COM MEIO MILHÃO DE DÓLARES
Naquela manhã o hotel estava praticamente vazio, era um domingo ensolarado, convidativo para um banho de piscina e ficar exposta ao sol, para “pegar” um bronzeado. Escolher qual o biquíni? Dúvida cruel. O branco, bem cavado. O predileto. Tudo pronto, “kit piscina” na sacola e piscina que me aguarde. O acesso à área de lazer do hotel era por um elevador externo, como que exclusivo e privativo. Cadeiras de descanso espalhadas. Escolhida uma. Sacola colocada estrategicamente embaixo, para um melhor acesso e discrição. Sentou-se a beira da piscina para sentir a temperatura da água e distrair-se um pouco. Era um momento seu. Biquíni branco, cavado, provocante que deixaria marcas... O seu momento foi então interrompido, quando ouviu o seguinte diálogo. “Vamos esconder estas duas maletas, ali atrás da lixeira. Que lixeira? Aquela ali, que tem os separadores de lixo orgânico e outras frescuras. Ah! E quando a gente vem buscar? Logo que anoitecer. Assim que fecharmos a conta. A gente pega as maletas e se manda. Cara! Deixar todo este dinheiro ai, na bobeira? Não temos outra saída. E se polícia resolver vir ao hotel e fazer uma batida? Não irão encontrar nada. Vamos deixar tudo aqui e esperar anoitecer. Mas e as câmeras de segurança? Já providenciei tudo. Apanhe aquela cadeira de plástico. Agora com este spray preto eu dou uma borrifada e pronto. Não filma nada. Estas maletas estão pesadas. Pudera. Com todo este dinheiro. Agora ela estava em uma situação complicada. Se eles a vissem teria problemas enormes. Delicadamente e sorrateiramente escorregou para dentro da piscina e com os dedos apertando as narinas, mergulhou sem fazer o mínimo barulho e movimento de água. Já não suportava mais aquele mergulho forçado. Emergiu silenciosamente a ponto de ver os dois homens pelas costas, quando se retiravam sem as maletas. Agora o coração palpitava de tal forma que parecia sair pela boca. Olhou para o átrio que dava acesso e viu os dois homens sumirem. Foi até a lixeira e ali estavam as duas maletas. O que fazer ? Apanhou a sacola com o “kit piscina” e foi direto para o apartamento. Pensou e pensou. Vestida com short e camisa polo, desceu até a área de lazer. As duas maletas ali estavam. Pesadas. Primeiro uma. Depois outra.Era muito dinheiro. Espalhados maços de notas de dólares, cobriam toda a superfície da cama. Eh! Minha nossa eles irão voltar à noite. Marcavam 11,43 horas. Calculou o peso das maletas e o volume. Um sebo seria a grande solução. Taxi. Sebo “Boa e Velha Leitura”. Livros de bolso? Duas caixas semelhantes às maletas repletas de livros de bolso e algumas revista de mulher pelada. Encheu as maletas. Primeiro uma. Depois outra.
E se câmara estivesse funcionando? Mas quem iria reclamar maletas roubadas, com material roubado? Shopping. Loja especializada em malas. Uma grande ou duas médias? Duas. Contou e recontou. Total quinhentos maços com mil dólares cada. Total quinhentos mil dólares. Portaria? Por favor, encerrar a minha conta. Não tem despesa de frigobar. Não é necessário Eu desço com a bagagem. Malas acomodadas no bagageiro do carro, voltou e pagou os quatro dias de hospedagem. Fazia cálculos e mais cálculos. Consultou a Internet via celular. Cotação do dólar: R$ 2,94. Será isto tudo? Total R$ 1.470.000,00. Velocidade normal. Música suave. Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e Força Nacional. Pronto estou ferrada. Boa tarde. Documentos do veículo e pessoais. A senhora é a escritora que participou do Congresso ai no Centro Atlântico de Eventos? Sim. Ficou gelada. Sou estudante de Filosofia e assisti a sua conferência. Maravilha pura. Desceu do carro. Os senhores querem vistoriar o carro? Em absoluto. A estas alturas já havia aberto o bagageiro. Abriu uma caixa de papelão e retirou alguns livros, os quais fizera lançamento no Congresso de Filosofia. Contou eram oito policiais que estavam perto do carro. Autografou com dedicatórias. Boa viagem. Qualquer urgência este é o número do telefone para emergência. É só ligar.
A noite já estava iniciando a sua caminhada rumo ao primeiro turno, o relógio marcava vinte horas. E então vamos embora? Vamos pegar as sacolas lá na lixeira e pagar a conta e nos mandar. Vamos de avião? Tá louco. Com estas malas cheias de dinheiro a polícia prende a gente na hora. Vamos comprar um carro então. A estas horas? Compramos amanhã. E se a polícia resolve parar a gente? Vamos então do que? De ônibus. Você vai com uma empresa e eu com outra empresa. E quando chegarmos a rodoviária a minha namorada pega a gente e vamos para a chácara. Viagem normal. Na chácara o clima era de euforia. Antes de abrirmos as nossas maletas ou sacolas, vamos comemorar com uma sidra, por que amanhã será champanhe. Vamos despejar sobre a mesa toda a nossa caçada. O que é isto? Abra a outra. Não acredito. Alguém nos deu um “banho”. De onde apareceram estes livros? E agora? Você não verificou as maletas? Sim. Estavam cheias de dólares. E agora cheia de livrinhos e lista telefônica. Alguém nos roubou... .Revista de mulher pelada, vocês são uns tarados.
Já era noite quando chegou ao seu destino. Apartamento de cobertura. Vista para o mar e vista para as montanhas. Malas abertas e maços esparramados sobre o tapete branco. Um contraste lindo de se ver. Banho de hidromassagem. Creme e loção gostosa e perfumada. Trouxera da última viagem à França. Dose dupla de uísque. Sem gelo. Assim era mais gostoso. Noticiário nacional. Nossa última notícia. Encontrado o empresário sequestrado. A família pagou o resgate de US$ 500.000,00, que foi entregue em duas maletas aos sequestradores. O Delegado explicou que a demora em entregar o dinheiro foi em razão da marcação sequenciada do dinheiro.
Agora sim. Não conseguia acreditar que havia “micado” com todo aquele dinheiro. Consultou um buscador na Internet, para saber o que era dinheiro com marcação de sequenciado. Ficou mais apreensiva ainda.
Os planos que fizera foram para o espaço. Agora o que faço eu com este pepino? Amanhã eu resolvo. Acordou com o toque do telefone interno. Era o Síndico do prédio, que fora chamado quando o porteiro se deparou com a Polícia. Bom dia doutora. Desculpe incomodar. Sim, mas o que acontece? Tem um pessoal da Policia aqui na portaria que quer falar com a senhora. Doutora, doutora? Mando subir? Espera um o pouco. Vou me arrumar. Agora sim, estou bem arrumada. Vou presa por um crime que não cometi. Alô. Pode mandar subir. Mãos gélidas. Imaginava ser presa. Algemada. Imprensa. Presa sequestradora. Bom dia. Como vai a senhora? Por favor, entrem. Desculpe o incômodo, a estas horas da manhã. Viemos lhe entregar... os seus documentos que um dos nossos policiais esqueceu de lhe devolver quando a senhora nos presenteou com os seus livros. Quase deu um beijo nos policiais. Um bom dia para a senhora e qualquer coisa, estamos a sua disposição. Alívio total. Ligou para o amigo advogado. Mas como assim? Você roubou o dinheiro de um sequestro? Roubei e não roubei. Não sabia que era... O que vou fazer? Bom. Analisemos as possibilidades. Devolver o dinheiro a polícia. E quem irá acreditar que eu não sequestrei o empresário? E os verdadeiros sequestradores irão me matar. Devolver o dinheiro anonimamente. Mas de que forma? Ficar com o dinheiro e não poder gastá-lo. Uma tentação. Já sei. Vou para o Paraguai e gasto nas lojas, no cassino. Sim. Mas quanto? E como você vai passar pelo aparelho de raios-X? Já sei vou comprar imóveis em Miami. E vai presa no primeiro minuto.
E o que fazer? Voltou para o apartamento e olhava os dólares. Vou tentar. Voltou ao hotel. Com as duas maletas e seus dólares. Não dizem que o criminoso volta ao lugar o crime? Estava estacionando o carro quando notou a presença de dois homens que de alguma forma lembrava aqueles que vira sair, se bem que de costas, quando na piscina. Mas a sua intuição feminina dizia: pare. Saíram e entraram em um taxi. Recuperou a coragem. E então doutora, veio ficar conosco neste final de semana? Seja bem vinda. Quem são aqueles homens? Aqueles senhores estão no 608, por sinal a senhora ficará hospedada no 708, coincidência de números, dá pra jogar no bicho. Eles estão solicitando as gravações das câmeras internas de segurança. E? Não é possível e só com uma solicitação da polícia. Polícia? É! A senhora está se sentindo bem? Tudo bem, as chaves, por favor. Nem desarrumou as malas. As sacolas ali estavam também. Ficou arquitetando uma forma de agir. Estava saindo quando viu os dois homens se aproximando. Desviou o percurso. O shopping seria o lugar ideal. Disfarçou a voz. Por favor, apartamento 608. Estou com os seus dólares. Seu f..., Não se exalte. Troco as quinhentas mil verdinhas, por duzentas mil azuis de real. Vocês deixam os duzentas mil reais no lugar que eu vou indicar e eu vou dizer aonde vocês irão encontrar as verdinhas. Para provar que estou falando a verdade, amanhã antes do almoço, vocês irão receber duas notas de cem dólares e algumas fotos, mostrando as duas maletas. Um serviço de moto-boi se encarregou da entrega. Bom dia, apartamento 608. E então acreditaram ou não? Precisamos de prazo. Doze horas no máximo. E agora? Voltou a ligar. Vocês possuem telefone celular? Preciso gravar o número do seu celular, para futuros contatos. Não adianta tentar rastrear este aqui. É orelhão. Doze horas passadas. Fechou a conta. Já vai, doutora? Voltou a ligar. Façamos o seguinte: no final da rua do hotel onde vocês estão hospedados existe um carro de cor vermelha, estacionado. Ali vocês irão encontrar as duas valises abertas e com vários pacotes de dólares espalhados no banco de trás e no banco da frente e o porta malas aberto com alguns dólares. É a prova que vocês precisam de que estou falando sério. Qualquer tentativa de abrir ou arrombar o carro, o alarme dispara. E do outro lado da rua fica a Delegacia de Furtos de Veículos. Entenderam? O carro está com as portas trancadas eletronicamente. Agora prestem atenção. Mantenham o celular ligado. Coloquem os duzentos mil reais na mala que um motoboy irá ao encontro de vocês, ai aonde o carro esta estacionado. Vocês entregam a mala e ele vem de volta e confiro, se tudo estiver de acordo ele irá levar a chave para vocês. Caso contrário, vocês estão vendo os números dos telefones da Delegacia,bem em frente onde o carro está estacionado? Ou ainda eu aciono o alarme no menu “pânico” que tem uma gravação: Socorro estou sendo assaltado. Estamos combinados? Qual a alternativa? Tudo de acordo. Conferiu o conteúdo. Entregou a chave ao motoboy.Colocou a valise no porta malas. Entrou no carro e deu partida. Antes que colocassem o carro em funcionamento e recolhessem todos os dólares esparramados, ela sumiu no mundo. Agora sim. Devolvera o dinheiro. Seguia o ditado: quem rouba ladrão tem cem anos de perdão. Sinal de luz intermitente de vários carros. Acidente? Sim. Um veículo com duas pessoas acidentadas e infelizmente morreram. Mas o que chamou a atenção era a quantidade de dólares esparramados no interior do veículo. Os policiais acreditam que eram os sequestrados daquele empresário que a família pagou quinhentos mil dólares... .
Seguiu a viagem agora mais tranquila agora fazendo planos para o futuro, agora ao invés das verdinhas, as azuizinhas...