VALEU O BOI!

VALEU O BOI!

Ser professor, por incrível que pareça, é uma profissão muito árdua e, ao mesmo tempo gratificante, pois nos deparamos com situações que nos deixam marcas, ou melhor, lições de vida e ensinamentos grandiosos. Muitas vezes você acha que estar agindo certo, mas com um simples gesto de um aluno se descobre que não seria esta a forma de agir e sim aquela em que o próprio aluno sugerira através de sua maneira de, também, nos ensinar.

Sempre fui professora dos meus filhos. Tive a experiência de conhecê-los melhor como professora e não só como mãe, pois sabemos que com este mundo que é uma correria só, muitas vezes, nós mães não dedicamos tempo suficiente aos nossos filhos em casa, como seria o correto. Graças a Deus tive a oportunidade de acompanhá-los em casa e na escola, algo que para mim é maravilhoso, para eles, muitas vezes é incomodante.

O meu filho quando pequeno, no jardim-I e II por influência da profissão do avô paterno, só falava em ser vaqueiro. Quando a professora Neide investigava sobre a questão da profissão dos alunos ao crescer, ele era o primeiro a dizer que queria ser vaqueiro e cuidar dos cavalos e do gado com o avô. Anos se passaram e, nesse decorrer, eu sempre o aconselhava que estudasse para ser veterinário, pois seria o doutor dos cavalos e de todos os animais. Ele insistia em dizer que não queria ser doutor de nada, queria mesmo era ser vaqueiro nesse mundão de meu Deus. Interessante o quanto prestava atenção em tudo que se referia a esse assunto, até mesmo o modo de falar. Confesso que tudo isso me incomodava. Qual a mãe que direta ou indiretamente não se mete na escolha dos filhos, visando, é claro, uma profissão de mais “status” financeiro, a qual possa lhe trazer um futuro mais promissor, no sentido financeiro. É claro, sem menosprezar as outras profissões.

Ao chegar na 4ª série, passei a ser sua professora de redação e, como professora de língua portuguesa, gosto muito de trabalhar a redação, porque me preocupo com a questão da escrita e da criatividade oral do aluno. Um certo dia, cheguei na sala de aula toda empolgada para dar a aula de redação. Iniciei falando da importância das profissões, as vantagens e desvantagens, a concorrência no mercado de trabalho, a importância de se trabalhar com amor, e muito mais. É claro que falei de tudo isso de uma forma simples, na linguagem do aluno daquela série. Após toda essa conversa prévia, essa instigação, logo pedi ao aos alunos que escrevessem um texto sobre o que eles pretendiam ser quando crescer.

Evidentemente, não dar para tentar esconder do leitor que no fundo eu estaria induzindo meu filho, sem que ele percebesse, a mudar de idéia em relação a sua profissão.

No decorrer da aula, eles se desenvolveram bem, uns me perguntavam sempre algo, como por exemplo: “Como se escreve tal palavra: se quem tem medo de sangue pode ser médico; e, assim por diante”. Quem eu mais queria que me fizesse alguma pergunta, calado estava, calado ficou, num canto da sala, entretido e escrevendo seu texto.

Recebi todas as redações e, quando comecei a lê-las me emocionei, assim como sempre, pois todas as vezes que leio os textos de meus alunos costumo sorri, chorar... E dessa vez não foi diferente, me sensibilizei com uma que dizia assim:

“ Quando eu crescer, queria mesmo era ser vaqueiro. Quero ir para a fazenda do meu avô cuidar dos cavalos dele. Quero ir mais meus amigos para as vaquejadas pegar boi. Mas minha mãe vive dizendo para eu ser Veterinário, mas eu quero ser mesmo é vaqueiro”.

E VALEU O BOI!

Esta redação me trouxe uma grande lição de vida, abrindo meus olhos para a questão de deixar que os filhos façam suas próprias escolhas. O que é bom para mim, nem sempre é bom para o outro, mesmo que esse outro seja o(a) nosso(a) filho (a).

Deixo mais esta experiência da minha vida para que vocês, os leitores, assim como pais, amigos, professores, também, possam refletir e tirar uma lição positiva para suas vidas. Lembre-se que cuidar é sinal de amor, porém decidir tudo por eles, é sinal de invasão. É o que eles acham.

Dionésia Barros
Enviado por Dionésia Barros em 15/12/2012
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