A Lição

Ricardo tinha no pai o seu grande herói. Estas histórias de grandes heróis de capa e espada, vestimentas de ferro, poder de voar que fazem a diversão das crianças e adolescentes, esgotam as revistas em quadrinhos e enchem as telas do cinema e da televisão não fazem tanto a cabeça do jovem como se costuma pensar; tem ele no pai o seu herói maior, de todos, o mais admirado e imitado. Era assim que Ricardo via o pai. Queria ser como ele, queria imitá-lo. E o desejo surgiu muito cedo, pois muito cedo começou a perceber a diferença entre a vida em seu lar e a de muitos dos seus colegas de rua e de escola.

Foi num sábado pela manhã, ainda sobre a mesa do café que acabavam de degustar na varanda da bela residência, que Ricardo interrogou o pai a respeito de sua vida vitoriosa; era ainda uma criança, entrante na adolescência.

- O que fez para se tornar um homem rico?

- Mas, eu não sou um homem rico - disse o pai num sorriso simpático.

- Como assim, não é rico?

- Sou um homem próspero. Não devemos confundir prosperidade com riqueza.

- Dá para me explicar a diferença?

- Gostaria muito, mas estou certo de que não vai compreender. Não é nada fácil compreender a diferença entre prosperidade e riqueza, mormente para você que ainda é uma criança.

- Não sou mais criança e sim um homem, agora.

- Está bem; o que quer ser: próspero ou rico?
Ricardo então não pensou duas vezes. Vendo a sua volta as vantagens e o bem estar que o dinheiro pode proporcionar, respondeu, dando à voz plena convicção:

- Quero ser rico.

- Muito bem; fez a sua escolha. Trabalhe bastante, o máximo que conseguir; então, poderá ser rico.

Foi o que fez. Até os trinta anos trabalhou feito louco, a ponto de esquecer o lazer e até os estudos, mas não enriqueceu. Meio que desiludido foi ao pai que, na casa dos cinquenta, via-se ainda mais próspero e mais feliz.

- Não consegui enriquecer; o que fiz de errado?

- Eu é que pergunto a você; o que fazia com todo o dinheiro que ganhava?

- Comprava coisas para minha família. Minha mulher sempre adorou belas roupas e belas casas, com mobiliário de primeira qualidade. Nas refeições, quer mesa farta, com muitas iguarias importadas, que custam muito dinheiro. Nunca dispensa um automóvel e adora dar festas. O senhor acha que minha mulher é a culpada de eu não ser um homem rico, depois de trabalhar tanto?

- Eu não diria isto.

- Será que devo separar-me de minha mulher?

- Não, não faça uma coisa dessas.

- Então, o que devo fazer para ser um homem rico?

- Ainda deseja a riqueza?

- É claro que sim; como poderei obtê-la?

- É fácil. Poupe, economize tudo o que ganhar e ponha a render juros.

- Então, é só guardar todo o meu dinheiro sem utilizá-lo para nada?

- É claro que não, seu idiota! Como pretende vestir, comer e pagar suas contas? Digo para não gastar em nada que não seja essencial. Se precisar, não demonstre a sua mulher o quanto ganha exatamente, pois a mulher perdulária pode ser a perdição do homem. Entretanto, não deixe que nada falte em sua casa; apenas evite o desperdício e o luxo.

E assim fez Ricardo. Continuou trabalhando com a mesma intensidade com a qual já estava acostumado e poupando boa parte do seu dinheiro. Vinte anos se passaram. Mais de uma vez alcançou Ricardo a riqueza ansiada, mas, cada vez que a alcançava, um revés a levava de si, deixando-o pobre novamente. Num desses reveses ficou praticamente na lona financeira. A mulher abandonou-o e ele procurou alívio nas drogas e na bebida. Arrasado, encontrou no pai palavras de conforto e de sabedoria. O velho, septuagenário, usufruía o ocaso de sua existência no mais alto gozo da felicidade; felicidade advinda de uma vivência sábia, a qual procurou mostrar ao filho em diversas ocasiões.

- Por que sofre, meu filho?

- O senhor ainda pergunta, meu pai?

- Não foi falta de conselho que o deixou assim.

- Estou certo que não. Mas, por que então cheguei a esse estado se procurei seguir os seus conselhos?

- Desculpe-me, mas não seguiu os meus conselhos da forma que deveria. Para começar, você preferiu a riqueza à prosperidade, está lembrado?

- É claro que estou, mas como pode dizer que não é rico se possui tudo o que a riqueza pode proporcionar?

- Sim, possuo tudo, inclusive a felicidade, a maior das bênçãos fornecidas pelo nosso criador; com ou sem dinheiro. Porém, felicidade com dinheiro é ainda melhor porque, nesses casos, pode-se estender o benefício a outras pessoas, fazendo-as felizes, também. A riqueza exterior, palpável, é o resultado de uma transformação interior, do despertamento da alma, e este só vem através do altruísmo. Pode-se tornar rico querendo a riqueza para si, exclusivamente, mas, definitivamente, esta só é verdadeira e traz a felicidade quando há o sincero desejo de fazer prosperar o outro. Você pensou exclusivamente na sua riqueza. Esta é a verdade. Por isto, não prosperou.

Quanto reservou para Deus como gratidão pela saúde para poder trabalhar? A quantas obras auxiliou? Quantos tirou da pobreza e a quantos fez prosperar? Está aí a grande diferença entre ser próspero e apenas ter dinheiro. Deixei que aprendesse por si mesmo. Tenho certeza de que adquiriu experiência e está pronto para prosperar. Todos os conselhos que dei são válidos por que fazem parte da cartilha da prosperidade.

E Ricardo, dali em diante, colocando em prática as palavras do pai, agora de forma correta, conseguiu alcançar a verdadeira prosperidade.
Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 12/12/2012
Reeditado em 12/12/2012
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