MEMÓRIAS DA TIPOGRAFIA
Aos dezessete anos eu me encontrava lá na tipografia, agora como gerente. Já era tido como o mais jovem impressor do Brasil, talvez do mundo, da chamada "máquina automática de leque", da Heidelberg, de fabricação alemã, aos treze anos de idade.
Para se trocar a cor da tinta para impressão ou mesmo para limpar os rolos e o cilindro da máquina, o normal era postar-se na parte posterior da mesma, em movimento, levantar as duas presilhas que pressionavam os rolos sobre o cilindro, este de diâmtro bem maior e, com uma pequena espátula e uma estopa embebida em terebentina, passar a retirar a tinta lá contida.
Pois é, meu irmãozinho Marinho ficou naquele dia incumbido de "lavar os rolos". Gente, o moleque só tinha doze anos. Quase pagamos caro pela
imprudência.
Eu estava lavando chapas, que é como chamávamos a composição de tipos, fios e espaços tipográficos, quando ouvi meu irmão gritar:
-Ai....ai....ai...
Saí louco, desesperado, percorrendo numa fração de segundo os dez ou doze metros que nos separavam e na velocidade em que eu vinha acionei a alavanca de emergência fazendo com a máquina parasse imediatamente.
Marinho, magrelo como era, teve sua mão direita puxada de palma pra cima imprensada entre os rolos e o cilindro. Embora tenha torcido o seu pequeno braço, tudo não passou de um grande susto, graças a Deus.
Vivíamos nós num tempo em que o trabalhador não tinha equipamentos de proteção nem organismos a resguardá-lo.
Marinho tornou-se um excelente gráfico e eu, quatro anos, depois fui para o Banco.