Helena

Helena já não tinha a mesma alegria, abençoada pela beleza, andava mais triste que moça abandonada no altar. Beleza, realmente, abre portas, mas, definitivamente, não segura endorfina. Sem saber o porque dessa depre, ela tentava cenicamente disfarçar. Os homens jogavam-se aos seus pés, várias propostas de empregos melhores, convites para festas, passeios, viagens, muito requisitada e nada de aquela energia voltar. Sentada no sofá da sala, olhando para a parede à sua frente, com pinturas por fazer, lembrou-se que sua primeira vez fora ali naquela parede, na época estava recém-pintada. Ela, então, com treze anos, tinha um namoradinho de escola, namoro simplório, coisa de meninos, de olhar, olhar, olhar, às vezes um sorriso e, até raramente, o pegar em uma das mãos. Era amigo de seu irmão, Pedro, mais velho que ela, iam ali para estudar, faziam isso às vésperas de provas, e naqueles estudos, tinha a ida à cozinha para beber água, quando os olhares se cruzavam, coração palpitava, disparava, até que um dia, indo buscar água, ele a encontrou na sala, perto daquela parede, sozinhos, os dois, dessa vez o olhar demorou, o sorriso apareceu, sorriso que congelou; os olhos buscaram as mãos, as mãos dele pegaram nas mãos delas, ela sentia como se tivesse uma escola de samba no peito, e foi ali lentamente, ou melhor, da forma calma e mais rápida que ela já sentiu, os rostos se aproximaram e um beijo foi roubado, não se sabe quem roubou de quem, mas era um "não pode" querendo, aconteceu, o primeiro beijo, inesquecível. Dali pra frente, assustados, ansiosos, precipitados, preocupados, vieram outros beijos, escritas no diário, desenhos de coração, florzinhas e tudo o mais romântico que ele a podia inspirar. Helena cresceu, virou moça, moça mulher, na mesma casa, a mesma parede, agora manchada, precisando pintar. Igual a ela, triste, necessitando ser repintada, nas cores da alegria e espontaneidade, sua marca registrada, que junto com sua beleza, tornava-a invejada sem igual. Que pena, pensou, …, logo hoje que é a festa, quando ouviu uma voz chamando-a: - Helena …