A primeira colação
Era verão e Joanna preparava-se para curtir mais um dia de frustração. Havia perdido as esperanças aos 34 anos. Preparava-se para esperar a morte chegar.
Aos 19 anos havia ingressado no curso de Museologia da UNIRIO, e abandonou seus estudos aos 21. Casou-se e seu marido a pediu para mudar para Brasília. Largou todos os seus sonhos para trás. O casamento era prioridade.
Após permanecer 9 anos nessa cidade, o casal retornou com seus dois filhos para o Rio de Janeiro, mas Joanna voltou muito doente. Anemia profunda, 22 de hematócrito, 2100 leucócitos...e os médicos resolveram interná-la para investigar por onde ela estava sangrando. Essa era a expressão usada por eles.
Após longos 12 dias de internação, muitos exames e uma punção de medula a hematologista chegou a conclusão que ela sofria de qualquer outro mal menos Leucemia.
Eles não possuíam plano de saúde, mas os médicos determinaram a causa da anemia: tratava-se de Mioma.
Joanna não tinha condições de realizar a cirurgia naquele momento. Estava muito anêmica e decidiram suspender sua menstruação para que ela se recuperasse da tal anemia. E assim foi feito.
Sete meses depois Joanna estava com 42 de hematócrito e 3800 leucócitos, pronta para operar. Mas dois empecilhos a aguardavam: o médico ginecologista não acreditava no laudo da hematologista. Ele dizia que Joanna estava somatizando a doença, e ainda, ela deveria aguardar o período de carência do plano de saúde...18 meses. Unindo o útil ao agradável, seu marido disse que ela realmente não tinha nada, era um problema de falta de superação...pra ele toda a família dela sofria de auto estima baixa. Já que na família dele uma dorzinha não colocava ninguém no Hospital. Sabe como é, sem ofender classe alguma, ele era filho de policial....
Joanna teve que ser internada novamente, e por sorte, no local da internação, a mesma hematologista estava dando plantão. Coincidência....não, Joanna não acreditava no acaso, foi obra de Deus. A Dra lhe disse: - O que você está fazendo aqui? Eu te coloquei pronta para operar?
Bem, um dos exames, finalmente mostrou uma pequena imagem e o laudo sugeria mioma....sugeria.
Ela pediu ao meu médico que por favor lhe tirasse daquela situação, precisava ficar viva para criar seus dois filhos: Gui com 3 anos e Wil com 7.
Aos 33 anos havia perdido o útero, e a mala que guardava com as roupinhas do enxoval do 3o. bebê, perderam sua utilidade. Ainda por cima, seu peito encheu de leite, mas não havia nenhuma criaturinha linda para usufruí-lo.
Se lhe perguntarem o que mais ela ama fazer nessa vida, é ser mãe, com certeza.
A quarentena passou. A depressão lhe dominava. Um belo dia seu irmão se aproximou dela e lhe deu dois livros de presente de Natal: Veias abertas da América Latina e História das Civilizações. Ele lhe disse: - Mana, estão abertas as inscrições do vestibular da Universidade X para o curso de História, e estão oferecendo bolsa de estudos de 70%. Você tem 12 dias pra estudar e realizar o vestibular.
Ela fez a prova, na saída seu coração disparou, mas havia conseguido. E desde esse dia, nunca mais parou de estudar...e olha que ela estuda muito!... e o céu não é o seu limite.....ela cria asas se for preciso!
Com todos os obstáculos que ela passou; com a primeira e única nota baixa que tirou; com as humilhações, frustrações....foi o melhor curso de sua vida. E toda vez que passa por esta Universidade ela a reverencia...reverencia seus professores que a incentivaram a chegar ao final, e reverencia sua minha mãe, porque quando ela queria desistir ela aparecia com o dinheiro das mensalidades e dizia: - "Se você abaixar mais um pouquinho vai aparecer sua calcinha."
Não preciso dizer que no fim do curso ela estava totalmente mudada. Havia aprendido que sofrimento é uma questão de atitude. Se você não o quiser, ele não vem...
Nessa história tem uma mulher e um homem importantíssimos em sua vida: - Sua mãe e seu irmão mais novo, Luiz....