Metamorfósico
Ele fixa os olhos no chão e tenta se agarrar às formas físicas, empunhando uma caixinha de sapatos e meia dúzia de garrafas pet.
A sua realidade oscila entre o devaneio e a verdade.
Observa os transeuntes como quem contempla um oceano imenso e turbulento.
Em qual ano, dia, hora, minuto sua alma se perdeu? A mesma alma que agora anseia pelo corpo físico mas, que vagueia por aí.
De quando em vez algum ruído ou movimento chama a sua atenção.
Ele fala sem parar, gesticula com o vazio, se esbraveja com as sombras... Que entidade sobrevive a essa espécie de morte sonambúlica que habita esse homem tão singular?
Fascinado, examina uma vez mais as garrafas ali no chão, como se fossem jóias de imensurável valor... Elas fazem parte dele...Estão impregnadas em seu espírito atormentado.
É tudo que ele tem. Fazem companhia a ele, não cobram nada e apenas existem.
Ele fixa os olhos no chão e a tarde vai, as horas passam... Ele permanece circunspecto com suas garrafas, sua caixinha de sapatos e seu mundo metamorfósico.
Flávia Wrach