O SUPERSTICIOSO
O SUPERSTICIOSO
Rubão era uma pessoa muito querida na cidade. Colegas de serviço, escola o admiravam muito pela simplicidade, honestidade e pela forma como tratava a todos, desde o mais humilde até o mais importante. Era uma grande pessoa.
Mas Rubão tinha um defeito – se é que se possa chamar de defeito – que ninguém agüentava mais e estavam procurando um jeito de resolver o problema: era supersticioso demais. Acreditava em horóscopo, videntes, não saia sem o pé-de-coelho, ferradura, que achava que era para dar sorte. Para sair de casa então só com consulta à previsão do tempo.
- Rubão, eu e a turma vamos jogar uma partida de futebol e depois fazer um churrasco na fazenda do pai do Paulo. Você topa? – perguntou Mário.
- Vamos ver. – respondeu Rubão.
- Vamos ver o quê? – retrucou Mário.
- Tenho que ver a previsão do tempo no jornal, consultar o horóscopo para ver se está um bom dia para sair. Você sabe, pode chover. – disse Rubão.
- Você já está enchendo o saco com suas manias. Olha o tempo que está fazendo? Um sol de rachar! – disse já meio irritado, Mário.
- Você sabe, homem prevenido vale por dois. – encerrou o assunto, Rubão.
E realmente estava um belíssimo dia.
Mas, voltando às manias, ele era daqueles que se visse uma escada na calçada um quilometro antes, já atravessava a rua para não passar por baixo.
A cidade onde ele morava, São Francisco, era uma cidade agradável, com belos lugares para se visitar e em quase todos os fins de semana havia bailes para os jovens se divertirem. Rubão, com seus vinte e dois anos, não conseguia arrumar namorada nem com reza brava. Talvez por causa de suas manias. E os colegas queriam ajudá-lo a resolver o “problema”.
- Que podemos fazer? – perguntou Paulo.
- Não vejo outra solução a não ser arrumar um psicólogo ou algo assim. Mas vai ser duro convence-lo. A pagar as sessões, mais ainda. - disse Mário.
- Ele vai ter que aceitar o tratamento, senão não tem jeito. - falou Roberto.
Mário tomou a palavra e comentou:
- Vamos fazer o seguinte, mas vocês têm que me ajudar a convencê-lo. Eu tenho um primo, o Zé Carlos, que é psicólogo, que já curou várias pessoas com problemas semelhantes. Eu falo com ele. Se fizer um precinho camarada...
Rubão era tão sistemático que mesmo com sol alto saia de galocha, capa e guarda-chuva, após ouvir a previsão do tempo. Ia dar um trabalho danado convence-lo, mas iam tentar.
Foi uma luta. Mas depois de alguns dias ele topou. Acreditava que seria melhor tentar fazer alguma coisa.
Depois de seis meses de tratamento, Zé Carlos o chamou e lhe disse:
- Rubão, hoje estou liberando você pois está completamente curado. Foi duro, mas você venceu. Parabéns. – disse-lhe o médico.
- Eu lhe agradeço muito. - respondeu.
Mário chegou ao seu primo e perguntou:
- E daí, Zé? O Rubão se livrou das manias?
- Está completamente curado. – respondeu.
Porém não deu nem tempo para conversar com Rubão, pois logo a seguir foi designado pela firma onde trabalhava, para fazer um curso em São Paulo, na matriz, que lhe poderia abrir novas chances de promoção e até melhorar o salário. Eram quinze dias que ia ficar fora da cidade. Teriam que esperar para atestar a cura.
As duas semanas passaram rapidamente. Então foram até a casa de Rubão, visitá-lo.
- E daí Rubão? Como está se sentindo? – perguntaram.
- Maravilhosamente bem! Graças a vocês. – respondeu.
- Ora, amigos são para essas coisas. Mas estou vendo que você está meio mudado, diferente. O que foi?
- Vocês notaram é? Arrumei uma namorada. Estou apaixonado! – disse Rubão.
Não acreditaram! Namorada? Ele não conseguia arrumar ninguém, e agora...
- Vocês não acreditam, não? Ela vem fazer uma visita a casa dos meus pais no final de semana. Vocês vão conhecê-la. Chama-se Lindaura e é muito bonita e simpática.
- Bom, nesse caso precisamos preparar algo para recebê-la. Um churrasco na prainha seria legal. - disse Mário.
- Concordo com você. – emendou Rubão.
Aceitou na hora o convite! Nunca havia acontecido isso. Está realmente curado, comentaram os amigos.
Chegou o fim de semana e a festa estava preparada. Conheceram Lindaura, gostaram dela e a convidaram para ir ao churrasco.
- Mário, é o seguinte. Sei que todos vocês vão de bicicletas e motos. Era o que estava combinado. Mas nós vamos de carro, se não se importarem.
- Tá legal. Mas você vai ter que dar uma explicação muito boa, senão não aceitamos.
- É que vai chover e ...
- Sem essa Rubão! Recaída agora? E o tratamento? – perguntaram. Olha só o sol que está fazendo?
- Se não for do meu jeito... e levem guarda-chuvas.
- Então está certo. Pode ir. – concordaram.
A prainha era um lugar muito bom para churrasco. Todo cercado de árvores, sombra aconchegante, rio bom para se tomar um banho. Tudo perfeito.
O churrasco ia muito animado. Muita música, bebida, alegria. Uma festa. Já passava das duas da tarde e nada de ninguém querer ir embora.
De repente começou um vento, o sol começou a se esconder por trás de nuvens carregadas. Chuva de verão. Não deu nem tempo de se esconderem ou ir embora. A água caiu com vontade, molhando todo mundo. Menos Rubão e Lindaura, que foram de carro.
Mário, todo molhado, chegou ao carro do casal e falou:
- Rubão, você nunca acertava uma quando dava suas previsões e logo agoravocê tinha de acertar? Você é pé-frio! Porque deu certo agora?
- É que a Lindaura trabalha em um setor da firma que cuida da previsão do tempo. Meteorologia.!
- E...
- É que eu pedi para ela trazer a previsão do tempo para os próximos sete dias. E eu lhes avisei para trazerem os guarda-chuvas!