Nina
Tinha três filhos: um de seis, um de cinco e uma de quatro. O pai delas fugira com outra mulher já fazia alguns anos. Tratava de não pensar nisso. Trabalhava embalando brinquedos numa pequena fábrica, a poucos quilômetros de sua casa. Ganhava pouco, mas o suficiente para sustentar ela própria e os filhos.
Eram verdadeiros anjos. Nina precisava deixa-los em casa enquanto trabalhava. Assistiam televisão e desenhavam o dia todo, até a hora em que ela chegasse. Nina ia para casa almoçar com seus filhos ao meio-dia, e estava de volta às cinco da tarde. Era uma rotina cansativa, mas satisfatória, e embora as dificuldades, Nina era feliz.
Por mais tranquilos que fossem seus filhos, Nina tinha medo, afinal, eram três crianças indefesas e sozinhas o dia todo. Por isso ensinou a eles um pequeno truque. Sempre que alguém batesse à porta, eles deveriam se esconder embaixo da cama e não fazer barulho algum, até que a pessoa fosse embora. Inocentes como eram, achavam a brincadeira divertida e sempre torciam para que alguém batesse à porta.
Sendo extremamente tímida, Nina mal trocava palavra com os outros na fábrica, porém era eficiente no trabalho, e era o que importava. Ninguém ali sabia que ela tinha filhos, pois se soubessem, corria o risco de ser demitida.
Era um dia claro e sem nuvens, Nina deu um beijo em cada um dos filhos, que ainda dormiam, e foi para o trabalho.
Na fábrica, pouco antes de sair para o intervalo, um senhor pedira que Nina recolhesse algumas caixas posicionadas em frente a um tanque.
Houve um grito agudo e em seguida um baque ensurdecedor. Um contêiner despencava no chão.
O impacto rachou o crânio de Nina, que morreu na hora. O lugar tornou-se um pandemônio. Pessoas choravam, outras gritavam, outras simplesmente não faziam nada devido ao choque.
Perguntaram se alguém a conhecia, se alguém sabia algo dela ¬– ah, ela era meio calada, sabe como é…
“Eu sei que ela não mora sozinha, mas não sei com quem” dissera uma funcionária das embalagens.
Tinham o endereço de Nina, devia ser o suficiente. Dois funcionários foram encarregados de dar a notícia à família.
Bateram na porta. Nenhuma resposta. Chamaram alto. Mesmo assim, nada. Voltaram na casa durante quatro dias e em diferentes horários e não havia ninguém lá.
Resolveram esperar mais uma semana. Porém, a resposta foi a mesma – o silêncio.
Vasculharam num arquivo velho e empoeirado – não era possível que não houvesse ninguém – e encontraram um número de um provável ex-marido…
Três semanas depois, ele apareceu. Estivera viajando em Miami. Por acaso, ainda tinha a chave da casa.
Entrou. A casa vazia.
Gritou de desespero quando viu três cadáveres de crianças com as mãos dadas embaixo da cama.