CLAUDIA, CIDA E EDGAR ALLAN POE
São quatro horas da madrugada. Claudia apressa o passo atenta a qualquer movimento e alcança a ponte. Do outro lado, a mata fechada a observa com desconfiança. Nem os pássaros estão despertos, dormem em seus ninhos aconchegados uns aos outros. Um morcego atrasou-se do bando e passa raspando sobre a cabeça da jovem, ela se assusta e corre, alcança o ponto de ônibus e respira aliviada. Algumas pessoas já aguardam a condução que os levará para a cidade.O bom dia é arrastado pelo vento e Claudia se encosta no pilar ainda ofegante. As conversas são em tom baixo, quase murmúrios, ela alcança fiapos das mesmas sim, foi o Celestino que viu..morreram os dois...não sei,vou me embora daqui, seu coração se aperta, Claudia aperta o casaco contra o peito com força. Uma luz amarelada na ponte indica o onibus que chega, a dança frenética se inicia, todos querem subir ao mesmo tempo, safanões voam ,o motorista grita, calma pessoal é bando de loucos, Claudia aguarda com sossego; sobre quase que por último,consegue lugar por puro acaso e recosta a cabeça contra o vidro gelado da janela; não consegue mais dormir, pensa no marido que ama, e subitamente se descobre feliz -feliz naquela manhã acabrunhada e tão fria, feliz por trabalhar com afinco, feliz por estudar, a professora Cida mora por aqui também, tão competente e criativa, imagine só colocar um conto do tal inglês, como é mesmo o nome dele Claudia franze a testa, o motorista a observa com curiosidade, é ..é..já sei, é Edgar Allan..e..Poe, isso, Poe, e agora todo mundo na classe quer saber se ele matou ou não a tal Berenice, sorri e o motorista novamente a observa surpreso - Claudia está feliz- é feliz - pensa nos desatinos que é obrigada a ver e conviver, tantas mortes, tanta dor, tanto medo, mas pensa na avó que lhe dizia: - não tenha medo;Deus ajuda a quem cedo madruga - e sorri novamente- é feliz - por amar o companheiro, a família, por trabalhar, por estudar quando os passarinhos já estão escovando os dentes para dormir, é feliz por ter uma professora como a Cida, tão ciente dos seus deveres, num lugar que a vida esqueceu é feliz por ser uma guerreira-uma brasileira guerreira.Como tantas pelo imenso Brasil-Uma brasileira do bem.
Minha homenagem a essas brasileiras que labutam por esse Brasil afora.