A Volta do Amigo Alienígena
Ela enrolou os pães de queijo, acendeu o forno e despejou sobre a forma um fio de óleo, para untá-la. Com a garrafa ainda na mão, ficou olhando o desenho feito pelo líquido amarelado.
Parecia uma letra do alfabeto grego mas, por alguma razão, ela estava convencida de que a conhecia. Assim como o oito deitado significa o infinito, aquele símbolo representava mais que um simples fonema.
O calor do forno ligado ao seu lado trouxe-a de volta à realidade e ela procurou não pensar mais no assunto.
Impossível. Ainda à saída de casa, observou as marcas deixadas pela areia que caía da caçamba abarrotada de um caminhão em manobra. Não identificou a imagem de imediato, mas ao posicionar-se no final da ladeira onde parou para esperar a sua vez de entrar na preferencial, olhou inadvertidamente para baixo e lá estava ele.
“Coincidência.”, tentou convencer-se, mas não pode conter o arrepio quando o viu novamente no céu, em nuvens que pairavam indiferentes.
- Acho que estou com ideia fixa. Deve ser alguma logo que vi em algum lugar...
Como que para confirmar sua teoria, viu o símbolo na lateral do caminhão ao lado.
- Ahá! – exclamou aliviada, apenas para em seguida soltar um muxoxo de decepção. Ao mover-se o caminhão mostrou-se inteiro e ela pode ver que o que pensara ser a tal logo e o fim do mistério, era apenas parte da imagem meio desbotada de uma conhecida empresa.
E assim, durante todo aquele dia, sempre de forma aleatória, o símbolo foi-lhe apresentado várias vezes.
Ao entrar em casa naquela noite, doíam-lhe as têmporas de tanto buscar uma explicação.
Jogou-se no sofá exausta e exclamou:
- Foi você, não foi?
Ao seu lado, um pequenino gorducho, careca, com grandes orelhas pontudas e a pele muito lisa e verde escamosa materializou-se, sorrindo.
- Não pensei que você fosse esquecer...
- Faz tanto tempo... Puxa! Como você está!? E seu planeta? Sua família...
- Bem. Todos muito bem.
Depois, olhando mais detidamente para ela:
- Você cresceu.
- Eu era só uma garotinha. Passaram-se muitos anos desde que... Por que você me deixou? Éramos tão amigos...
- Foi preciso.
- Senti muito a sua falta.
- Eu sei. Mas foi para o seu bem.
- Eu... - ela titubeou. - entendo.
Ele sorriu. Sabia que era mentira. Ela mudou de assunto.
- E o que era essa imagem que eu vi o dia todo?
- Então você esqueceu mesmo a nossa linguagem dos sinais?
- Lamento...
- Eu a mostrava para você, para ajudá-la a lembrar...
- O remédio!!
- Exatamente!
- Perdeu seu tempo. Não vou tomar mais.
- Por quê?
- Me faz mal.
- Eu sei. Mas você precisa.
- Se eu tomar, você vai embora de novo.
- Se não tomar, os outros também vêm.
- Tenho medo dos outros!
- Eu também.
- Mas não quero que você vá.
- Eu sou só a sua imaginação. Você sabe disso.
- Eles também.
- Mas eles podem ferir você de verdade.
- Eu sei.
- Tome o remédio.
- Mas...
- Tome. Por favor. - era um pedido. Mas, era também uma ordem.
- Está bem, está bem... – respondeu ela, aborrecida, tomando o comprimido colorido com um copo de água.
- Muito bem. Boa menina. - disse ele, desaparecendo imediatamente.
Ela secou uma lágrima furtiva.
- Adeus, meu amigo. Pena que você não me deixou explicar: o remédio nunca funcionou com os outros.
Deu uma olhada em volta. Em cada canto escuro do cômodo, era possível ver os outros. Olhos assustadores e bocas agourentas, escarnecendo dela e de sua loucura, numa ladainha irritante, cujo som foi crescendo até tomar todo o apartamento. Cansada, ela caminhou até a janela, subiu no parapeito e, quando ia saltar, viu, lá embaixo, o símbolo feito de areia ainda pela manhã. Totalmente deformado após um dia inteiro de carros passando por cima, ele havia se transformado numa outra imagem e esta ela conhecia bem. Também fora criada pelo amigo alienígena e significava “campo de força”. Desceu da janela, voltou à cozinha, pegou os pães de queijo, espalhou-os em linha ao redor do sofá, onde se sentou e ligou a TV. Sabia que os outros não ousariam atacá-la enquanto estivesse assim protegida.
Parecia uma letra do alfabeto grego mas, por alguma razão, ela estava convencida de que a conhecia. Assim como o oito deitado significa o infinito, aquele símbolo representava mais que um simples fonema.
O calor do forno ligado ao seu lado trouxe-a de volta à realidade e ela procurou não pensar mais no assunto.
Impossível. Ainda à saída de casa, observou as marcas deixadas pela areia que caía da caçamba abarrotada de um caminhão em manobra. Não identificou a imagem de imediato, mas ao posicionar-se no final da ladeira onde parou para esperar a sua vez de entrar na preferencial, olhou inadvertidamente para baixo e lá estava ele.
“Coincidência.”, tentou convencer-se, mas não pode conter o arrepio quando o viu novamente no céu, em nuvens que pairavam indiferentes.
- Acho que estou com ideia fixa. Deve ser alguma logo que vi em algum lugar...
Como que para confirmar sua teoria, viu o símbolo na lateral do caminhão ao lado.
- Ahá! – exclamou aliviada, apenas para em seguida soltar um muxoxo de decepção. Ao mover-se o caminhão mostrou-se inteiro e ela pode ver que o que pensara ser a tal logo e o fim do mistério, era apenas parte da imagem meio desbotada de uma conhecida empresa.
E assim, durante todo aquele dia, sempre de forma aleatória, o símbolo foi-lhe apresentado várias vezes.
Ao entrar em casa naquela noite, doíam-lhe as têmporas de tanto buscar uma explicação.
Jogou-se no sofá exausta e exclamou:
- Foi você, não foi?
Ao seu lado, um pequenino gorducho, careca, com grandes orelhas pontudas e a pele muito lisa e verde escamosa materializou-se, sorrindo.
- Não pensei que você fosse esquecer...
- Faz tanto tempo... Puxa! Como você está!? E seu planeta? Sua família...
- Bem. Todos muito bem.
Depois, olhando mais detidamente para ela:
- Você cresceu.
- Eu era só uma garotinha. Passaram-se muitos anos desde que... Por que você me deixou? Éramos tão amigos...
- Foi preciso.
- Senti muito a sua falta.
- Eu sei. Mas foi para o seu bem.
- Eu... - ela titubeou. - entendo.
Ele sorriu. Sabia que era mentira. Ela mudou de assunto.
- E o que era essa imagem que eu vi o dia todo?
- Então você esqueceu mesmo a nossa linguagem dos sinais?
- Lamento...
- Eu a mostrava para você, para ajudá-la a lembrar...
- O remédio!!
- Exatamente!
- Perdeu seu tempo. Não vou tomar mais.
- Por quê?
- Me faz mal.
- Eu sei. Mas você precisa.
- Se eu tomar, você vai embora de novo.
- Se não tomar, os outros também vêm.
- Tenho medo dos outros!
- Eu também.
- Mas não quero que você vá.
- Eu sou só a sua imaginação. Você sabe disso.
- Eles também.
- Mas eles podem ferir você de verdade.
- Eu sei.
- Tome o remédio.
- Mas...
- Tome. Por favor. - era um pedido. Mas, era também uma ordem.
- Está bem, está bem... – respondeu ela, aborrecida, tomando o comprimido colorido com um copo de água.
- Muito bem. Boa menina. - disse ele, desaparecendo imediatamente.
Ela secou uma lágrima furtiva.
- Adeus, meu amigo. Pena que você não me deixou explicar: o remédio nunca funcionou com os outros.
Deu uma olhada em volta. Em cada canto escuro do cômodo, era possível ver os outros. Olhos assustadores e bocas agourentas, escarnecendo dela e de sua loucura, numa ladainha irritante, cujo som foi crescendo até tomar todo o apartamento. Cansada, ela caminhou até a janela, subiu no parapeito e, quando ia saltar, viu, lá embaixo, o símbolo feito de areia ainda pela manhã. Totalmente deformado após um dia inteiro de carros passando por cima, ele havia se transformado numa outra imagem e esta ela conhecia bem. Também fora criada pelo amigo alienígena e significava “campo de força”. Desceu da janela, voltou à cozinha, pegou os pães de queijo, espalhou-os em linha ao redor do sofá, onde se sentou e ligou a TV. Sabia que os outros não ousariam atacá-la enquanto estivesse assim protegida.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Meu Amigo Alienígena
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