A Menina e o Mar
Com a idade de cinco anos, Mariana conheceu o mar. Imóvel frente à imensidão d’água, seus olhinhos cresciam à medida que uma onda se aproximava. A boca entreaberta denunciava seu espanto e ela apenas sussurrou:
- Pai, eu tô com medo.
O pai sorriu e explicou que não precisava ter medo. Que ela podia entrar bem na beirinha, que não haveria problema. Não podia é ir lá no fundo.
Mas, nos primeiros dias, Mariana se recusava a chegar perto. Queria ficar apenas brincando com suas pazinhas e baldes na areia. O pai ou a mãe é que iam buscar água para as suas construções. A menina chorava, quando eles entravam nas águas revoltas. Pensava que elas iam engolir os dois.
A coragem das outras crianças que brincavam no rasinho foi incentivando-a a baixar suas resistências contra aquele monstro, que não era feio. Só brabo como Papai do céu, que quando chovia xingava todo mundo. Às vezes, o pai a pegava pela mão e a levava. Ela sentia a água refrescar seus pezinhos quentes. Começava a rir e para poder relaxar pedia ao pai para ele repetir que só tinha tubarão e baleia lá no fundo, bem lá no fundo, e que piranha não tinha.
Aos poucos ela foi gostando daquele carinho que as ondas faziam em seus pés e em todo o seu corpo, bem como, dos presentes que ele lhe enviava como as conchinhas coloridas. E vendo que outras crianças pulavam, se atiravam e brincavam em suas águas foi mudando sua impressão sobre aquele gigante.
Conheceu duas meninas da mesma idade e com elas ficava sentada na areia brincando, bem ali onde as ondas beliscavam suas pernas. De vez em quando, olhava fascinada para aquele mundaréu d’água que agora era seu amigo.
Começou a gostar tanto dele que até perdoava as travessuras que fazia como desmanchar os castelos de areia que ela e as amiguinhas construíam ou então de tentar esconder seus brinquedos, surrupiados num repuxo.
Achava graça quando uma onda mais forte a fazia virar cambalhotas ou quando o pai a pegava por debaixo dos braços e baixava e a levantava em suas águas refrescantes.
Teve um dia que até virou heroína quando salvou seu cachorro de ter o focinho queimado por uma água-viva. Alertava as amiguinhas e até os mais velhos que nessas gelatinas não podia se tocar.
Mas, um dia o mar a assuntou. Ela chegou e o viu muito brabo. Agitado, com ondas que cobriam completamente a praia onde ela brincava. As ondas batiam na murada que separava a areia da avenida e explodiam ganhado o ar como se fossem garras ansiosas para pegar alguém. Faziam um barulho alto como se estivessem xingando todo mundo.
Atônita, a menina perguntou ao pai, porque o mar estava tão brabo. Será que fizeram alguma coisa pra ele?
O pai respondeu-lhe que era assim mesmo. Coisas da natureza, mas, que amanhã, ele já estaria bem mansinho e ela poderia voltar a brincar e tomar banho.
Mariana pensou por alguns instantes. Mais calma, fez uma careta, balançou suavemente a cabeça se conformando e pensou que se amanhã o seu amigo não estaria brabo e voltaria a ser seu amigo, não teria porque ela falar que foi a sua amiguinha quem havia feito xixi ontem no mar.