Círculo Vicioso

Baseado numa história real

Com esforço, Uéslei passou de frentista à caixa da loja de conveniências do posto. No final de um dia, cinco reais faltavam. O patrão desconfiou de Uéslei.

— Pra rua, seu ladrão vagabundo!

Uéslei ficou chateado; era trabalhador, nunca roubara ninguém; e por que arriscaria seu pescoço por cinco paus?

De chateado, Uéslei ficou puto. O patrão só usou essa desculpa para demiti-lo e não pagar seus direitos. Agora, ele estava fodido. Seu pai tuberculoso, a mãe grávida do sexto filho.

Mas ele tinha umas pequenas economias. Usou-as para comprar um revólver velho, com seis balas. Prendeu-o na cintura. Pegou uma meia-calça da irmã e foi até o posto.

— Passa a grana, filho da puta!

Uéslei apontava a arma para a cabeça do ex-patrão, que lhe entregava as notas miúdas do caixa.

— Do cofre também!

O patrão abriu, quietinho, a caixa de metal e retirou uma bolada. Foi quando ocorreu a desgraça: o patrão olhou na direção do assaltante e, por debaixo do nylon da meia, ele reconheceu a fisionomia.

— Uéslei? É você?

Ter sido descoberto não fazia parte dos planos de Uéslei. E agora, o que ele faria?

— Por quê, Uéslei?

O assaltante disparou três tiros e fugiu com o dinheiro.

Pouco tempo depois, Uéslei abriu um comércio com o dinheiro do roubo. Contratou um funcionário para ajudá-lo. Porém, quando sumiu três reais do caixa, Uéslei despediu o bandidinho incompetente.

Na tarde seguinte, um assaltante armado apareceu, ordenando-o que entregasse o dinheiro, inclusive o que havia no cofre. No entanto, o rapaz parecia ser conhecido.

— Ademar, é você?

A três palavras mais estúpidas que Uéslei proferiu na vida (ou no que restava dela).