O Sumiço de Zé Ferreira
 
     Fazia tempo que José Ferreira não aparecia no Alto da Vista Maré, negro romântico, seresteiro, amado por muitas mulheres e amigo de todos no bairro.
       Houve uma preocupação geral, todos acorreram a casa de Zé Ferreira para saber de notícias, mas a mulher e filhos apenas respondiam que Zé estava tirando umas férias.
      - Férias? Será de que? O Zé Ferreira não trabalhava de carteira assinada, apenas fazia biscates. Só se fosse férias da cachaça, isto sim, fazia com assiduidade e pontualidade. Era o pensamento unânime de todos os amigos, inclusive de Albino Silva, seu amigo mais chegado.
      De fato, Zé Ferreira junto com Albino, quando não havia biscates para fazer, começavam sempre a beber (os trabalhos), conforme diziam eles, às 11 horas da manhã, momento em que terminava a últiuma missa na igreja do Nosso Senhor do Bonfim.
          Assim é que o sumiço de Zé Ferreira deixou todos no Alto da Vista Maré entristecidos e mais do que todos Albino, seu inseparável amigo.
     Passaram-se meses e meses. Quando ninguém mais esperava eis que aparece o Zé. Tinha outra cara, estava sóbrio e transmitia confiança em suas palavras, não era aquele conhecido bebado.
           De imediato  foi a casa do amigo Albino, entrou, deu um forte abraço no amigo e foi direto ao assunto.
    - Binho!  - Assim tratava ele ao amigo. - Venho aqui especialmente para lhe fazer um convite.
            José Ferreira começou então a descrever para o amigo tudo que lhe ocorrera desde aquele bemdito dia em que seu filho, sob pretexto de lhe arranjar um biscate, lhe levara para  uma reunião dos Alcólicos Anônimos.
             - Tudo mudara como da água pro vinho. - Relembra.
           Por fim propos ao amigo que fossem os dois juntos naquela mesma tarde, haveria uma reunião e já estavam todos avisados da presença deles.
              Binho ficou assustado de imediato com a proposição do amigo e logo respondeu que não, não iria, ele continuaria a beber. 
         Em contraposição de todas as virtudes que José Ferreira havia colocado como motivos para deixar de beber Albino Silva desfiou um rosário de tantas outras razões para que ele continuasse bebendo.
                 Por fim passaram a caminhar pela rua, sentaram-se em um bar, José Fonseca logo pediu uma coca-cola enquanto Albino pediu uma loura bem gelada.
                   Conversa vai, conversa vem, fim da noite estavam todos comemorando a volta do Zé com cachaça e cerveja, inclusive ele próprio que fora convencido por Albino de que beber ainda era mais vantagem. 

     
             
              

               
        
 
                         
         


 
Luís Jorge Vidal
Enviado por Luís Jorge Vidal em 23/11/2012
Reeditado em 04/03/2014
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