CONQUISTA
Ele estava feliz.
Tinha esperado quarenta anos por isso. Com calma. Com método. Pacientemente aguardou os desdobramentos da vida. A distância. O casamento. O acidente. O luto. Os filhos crescendo e dizendo adeus, buscando uma vida que não lhe pertencia. A solidão. A maturidade. A procura. O acolhimento, enfim.
Sentia uma alegria incontida, agora. Podia, se quisesse, expressa-la energicamente. Podia gritar, correr, rir sem parar, dizer um monte de amabilidades tolas mas doces. Não fez. Preferiu deslizar, suavemente, a mão pelas costas de Ana, como sempre quis fazer.
Era ela! A idade a mudara. A vida a mudara. A dor a mudara. Mas era Ana, ainda Ana e não outra. Ana que não iria mais embora. Ana que não tinha mais o que fazer na vida a não ser ser sua.
Ana.Ana.Ana. Adormeceu balbuciando mentalmente este nome. Estava feliz. Amanhã mandaria buscar as coisas dela.