Muladeiro (capítulo VII)

Na cozinha ou no quarto, Ernestina passava a maior parte do dia. Não reclamava da vida monótona que levava, mas arrancar-lhe um sorriso era coisa para se contar nos dedos. Vez ou outra, lembrava-se de como conhecera Teodoro, e em suas veladas lágrimas, arrependia-se pelo desgosto que dera ao pai.

_____ Mas, papai, o Téo é trabalhador, nunca se engraçou com mulheres, tem por mim um respeito e tanto, por que o senhor não simpatiza com ele ? São nossos vizinhos faz muitos anos. E o senhor nem vai me explicar a tamanha implicância ?

A verdade, é que a resposta nunca viera, e Tina indagava-se sobre esse mistério que o pai omitia. Orfã de mãe, desde os 12 anos, sua vida foi direcionada aos estudos, pois o derradeiro desejo da mãe era de que a filha se tornasse uma doutora. Não conseguiu cumprir a vontade da mãe, mas estudou tanto quanto conseguiu, e isso aconteceu até os seus 19 anos, quando conheceu Teodoro, e por quem se apaixonou.

_____ Fuja daqui ! Não quero uma vergonha dessa na família. Filha minha não vai sujar meu nome, nunca ! Nem quero saber do seu paradeiro e dessa criança. A partir de agora, não tenho mais filha ! – gritava seu pai, ao descobrir que a filha daria a luz ao seu primeiro neto, dentro de 7 meses.

____ Dona Tina, o patrão tá chamando a senhora lá no pasto. Disse que quer ter um dedo de prosa, fora da casa.

O chamamento de Minduim devolveu-lhe à realidade, e sem perguntar o que poderia ser, saiu com seus passos largos e decididos.

Antes de abrir a porteira, foi atingida por forte dor na região estomacal, fazendo-a vomitavar aos jatos e sentia a perna direita repuxar. Agachou-se no chão, segurando a barriga e daquele lugar saiu carregada pelos homens da fazenda, que conduziram-na para o hospital da cidade.

No hospital, Ernestina recebia todo o tratamento possível e conhecido pela medicina. Nas redondezas e na fazenda as novenas e rezas não cessavam, pois a recuperação da Tina era desejada por todos.

_____Escutei falar que é nó nas tripas – dizia Mariaquinha, a única vizinha com quem Ernestina conversa de vez em quando.

_____ Minha Nossa Senhora dos Agoniados ! Isso num tem cura ! Pobrezinha dela – comentava outra vizinha, ao saber o que Mariquinha havia dito.

Teodoro, Minduim e Israel continuavam os serviços na fazenda e revezam nos cuidados com Antonio, de quem ocultavam a verdade.

Silvana Goes
Enviado por Silvana Goes em 17/11/2012
Reeditado em 18/11/2012
Código do texto: T3991255
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