SONHO DA NINFETA

O SONHO DA NINFETA

Tinha acabado de sair do banho quando ouviu o barulho dos pneus do carro rolando sobre as pedrinhas do pátio. Foi até a janela, enrolada numa toalha. Sorriu vitoriosa. Sabia que ele voltaria! Era a segunda vez nessa semana que ele aparecia para jantar. Homem é tudo igual mesmo!

Colocou aquele vestidinho preto decotado por cima da pele nua. Sabia que fazia sucesso com ele. Olhou-se no espelho, levantou um pouco o vestido, deixando aparecer o alto das coxas bronzeadas, ficou de lado contemplando a tatuagem que recém havia feito logo abaixo do ombro. Gostava disso, de ficar se olhando, de seduzir o espelho. Sabia o que os homens pensavam ao vê-la passando na rua. Já se acostumara ao assédio deles. Aos doze anos já despertava a cobiça dos garotos. Agora até mesmo homens casados lhe soltavam gracejos quando ela passava. Esse doutor Arnaldo mesmo, amigo do seu pai. Deveria ter o que, quase quarenta anos? Tinha idade pra ser seu pai! Mas até que era bonitão. Médico na capital, estava de férias visitando a mãe. Iria embora amanhã. Mas como ela previra, ele estava de volta. Na outra noite, ela percebeu os olhos gulosos em cima dela.

Passou um batom discreto e deu uma ajeitada na franja. Antes de sair do quarto disse baixinho para o seu reflexo no espelho: “ Vai ser hoje, ou nunca mais!”

Quando chegou na sala, Doutor Arnaldo conversava com seu pai. Cumprimentou-o com um oi tímido, os olhos baixos, - era a própria inocência! Mas esse foi um movimento calculado. Gostava desse joguinho de gato e rato. Primeiro fazia esse ar de menininha inocente. Era importante deixar que ele pensasse que tinha o controle da situação.

Durante o jantar, quase não abriu a boca. De vez em quando levantava a cabeça e fitava o médico nos olhos. Quando percebia o embaraço do outro, desviava o olhar, e um sorrisinho malicioso brotava no canto da sua boca.

Depois de ajudar a mãe com a louça, foi até a sala, onde os homens conversavam e riam animadamente. Ela conhecia bem o seu velho pai. Já havia tomado umas tantas cervejas antes de jantar. Agora com o amigo já estavam na quarta ou quinta garrafa. Foi só uma questão de tempo para que ele precisasse ir até o banheiro, atender ao chamado da natureza.

Quando ficou sozinha com Doutor Arnaldo na sala, não perdeu tempo: sentou-se ao lado do médico e disse com sua vozinha de rouxinol de concurso:

- Quando você estiver indo embora, eu vou sair pela janela do meu quarto. Você vai me levar pra dar uma volta. Você leva? – o outro ficou sem ação. Não sabia o que dizer. Quis dizer não, que isso era loucura. Então ela foi ainda mais persuasiva. Disse baixinho, com os lábios colados ao ouvido do médico e com a mão na sua coxa:

- Eu estou sem calcinha!.

Doutor Arnaldo engoliu seco. Sentia o suor brotando na sua testa. Conseguiu enfim dizer um arran meio embasbacado.

- Arran.

Quando o pai voltou, ela disse que estava com sono e que iria dormir. Tomou a benção e saiu pelo corredor, deixando Doutor Arnaldo ganindo de desejo.

Não se passaram quinze minutos quando ouviu o pai se despedir do amigo e fechar a porta da frente. Esperou um pouco ainda, para aumentar ainda mais a aflição do outro. Abriu a janela, e saiu andando pé por pé para não fazer barulho. Quando chegou ao carro, o médico a esperava, salivando como uma hiena.

Saíram cortando a escuridão no seu carro preto como as asas da graúna. Ela acendeu um cigarro e pediu para que ele dirigisse até a entrada do campo de futebol perto da rodovia.

Quando chegaram lá, ela sem dizer palavra pulou no colo do médico, que envaidecido, pensava lá com seus botões: “continuo sendo o velho lobo de sempre!”

Meia hora depois, ela acendia outro cigarro. Doutor Arnaldo assumia agora um tom sério e preocupado, de quem após o ato consumado se dá conta da loucura que acabara de cometer. Se envolver com a filha do amigo. Ainda por cima menor de idade! Já pensou se alguém descobre! Isto poderia acabar com sua carreira de pediatra!

Ela por sua vez, fumava despreocupada, soprando anéis de fumaça pela janela. Quando terminou o cigarro, virou-se pra ele:

- Você vai embora amanhã, não vai?

- Vou. Saio cedinho. Tenho uma reunião importante amanhã à tarde no hospital. – Disse olhando o relógio. Melhor levar essa menina pra casa agora. Que loucura meu Deus!

Passando a mão carinhosamente pelo rosto do médico, ela miou:

- Então presta atenção: Eu vou estar te esperando na frente da minha casa, com minhas coisas prontas amanhã às seis e meia, tá bom?

- Do que você está falando menina? Ficou maluca? Você acha que eu vou te levar comigo?

- Escuta aqui seu cretino! – ela agora se transfigurava. Os olhos chispando veneno. - É claro que você vai me levar junto sim senhor! Ou você prefere que eu conte pro meu pai o que aconteceu hoje? Ou melhor ainda! Que conte pro meu tio que trabalha no jornal? Já pensou que bonita a manchete na capa? “Médico da capital vem para o interior fazer turismo sexual com menores de idade”? – Doutor Arnaldo suava frio. Percebia a virada na situação. Estava nas mãos daquela pequena vigarista.

- Você é maluca menina! Eu tenho uma noiva em Curitiba, como é que eu vou chegar com você lá? O que é que eu vou dizer? – ela deu uma gargalhada amarga:

- É isso que você imagina? Que eu quero ficar com você? Se enxerga seu velho! Você tem idade pra ser meu pai! Eu só quero que você me leve. Já tenho um lugar pra ficar lá. Não se preocupe, que se você fizer tudo direito, a tua noivinha não vai ficar sabendo de nada.

Despediu-se com um beijo. Era a menininha inocente de novo. – Até amanhã doutor. Vou estar te esperando. – e foi serpenteando aquele corpinho escultural até desaparecer na escuridão.

Naquela noite não conseguiu dormir. Tinha arrumado uma mochila com algumas roupas. Antes de sair, deu uma ultima olhada no quarto onde havia passado a vida inteira. Soprou um ultimo beijo para o espelho. Não conseguia se conter de tanta empolgação. Não conseguia acreditar que finalmente iria realizar o seu sonho! Finalmente! Estava indo pra Curitiba para ser puta!

Besouro Curitiba
Enviado por Besouro Curitiba em 15/11/2012
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