Consultório médico
Entrei na sala da clínica médica e me dirigi à recepcionista. Muitas mulheres presentes, algumas crianças, poucos homens, entre eles eu. Fui atendido e recomendado a sentar-me e esperar. Já previa o desconforto, poucas cadeiras, disputadas pelos que estavam esperando e os que estavam chegando.
Passados alguns minutos, vagou uma cadeira e me dirigi para ela. Alguém foi mais ágil e sentou-se primeiro. Esperei mais alguns minutos e consegui sentar-me.
As mulheres conversavam em voz alta, falavam ao celular em voz alta. Uma balbúrdia, ninguém se entendia. Uma senhora idosa, ao meu lado, perguntou se era ela que estava com problemas auditivos ou aquela barulheira era real. Virei-me, dirigi-lhe um sorriso amarelo e confirmei que era a falta de educação de algumas pessoas ali presentes, falavam realmente com vigor, e sempre ao mesmo tempo. Eu estava lendo um livro, mas não conseguia me concentrar. Fechei-o e passei a observar o comportamento daquelas pessoas.
Entrou uma jovem senhora, elegante, bonita, carregando grossa aliança no dedo anular esquerdo e puxando pequena valise com rodinhas. Falou com a recepcionista, fez cara de decepção, olhou para o seu relógio e se encaminhou e sentou-se na cadeira vazia ao meu lado. Fez algumas anotações em um caderninho cor-de-rosa ornado de flores, ligou para alguém, falando educadamente em voz baixa, desligou o aparelho e ajeitou-se na cadeira, na certeza de que iria esperar muito.
Estimei que ela pudesse ser uma representante de empresa fabricante de remédios, representante de laboratório médico. Alguns minutos depois, já com minha curiosidade bastante aguçada, virei-me para ela e perguntei sobre minha estimativa. A resposta foi positiva. Respondendo a outra pergunta minha, ela informou-me que não sabia o porquê de essas empresas estarem contratando mulheres para essa profissão, antes exclusiva dos homens. Satisfeito, voltei-me para o meu ponto de observação.
O fluxo de entrada e saída de gente continuava. A barulheira também. Parecia dia de feira. Alguns saíam das salas dos médicos com ar triste e agitados, outros, mais alegres, o resultado da consulta por certo lhes foi favorável. Muitos saíam com formulários de solicitação de exames e tinham que tirar pré-senha e/ou marcar nova consulta. Por muito tempo foi esse o movimento na clínica médica naquele dia.
A minha frente duas senhoras idosas conversam e gesticulam muito. Uma delas segura um copo com água. A que mais gesticula derrama o conteúdo do copo em seu colo e sobre a bolsa que segura firmemente. Alguns celulares continuam tocando e pessoas atendendo. Crianças choram, mas são logo levadas para a sala ao lado, onde existem livros infantis e brinquedos, é um alívio a retirada delas. Entre as pessoas que entram e saem quase todas estão com algum problema na estrutura óssea, do contrário, não estariam procurando aquela clínica. Em sua maioria são pessoas de idade avançada, algumas apoiadas em bengalas ou em braço de outra pessoa. Aparece uma em cadeira de rodas. Não deu para perceber o sofrimento, a dor que aquelas pessoas traziam. Cada um traz a sua dor, e não há nada que possa servir de comparação com a que cada um sente. Ela não vem com cheiro, cor, brilho ou qualquer outro símbolo que indique pontos de comparação. Apenas a sua intensidade pode ser medida, e isso momentaneamente, pois, quando ela cessa, já não mais nos lembramos dela. Algumas são tão intensas que nem mesmo o remédio é possível de eliminá-las.
Era a primeira vez que eu seria consultado por esse médico. Estou sentindo dores no joelho direito, o que me faz claudicar após alguns minutos andando a pé, e isso me incomoda bastante. Depois de alguns minutos, ouço a recepcionista me chamar, eu vou ser atendido. Ela me indica a sala, eu entro e depois de trinta minutos sou liberado pelo médico. Apenas uma inflamação no músculo da região glútea, com dor refletindo para o joelho. Nada de problema com a estrutura óssea. A recomendação médica é: exercício para fortalecer a musculatura e deixar de ser sedentário.