O taxista tarado
Tudo começou na segunda-feira. Quando Aline saiu para o trabalho já atrasada. Acontece que na noite de domingo ela tinha reencontrado João Marcos, e por algum motivo que nem ela mesma poderia explicar, acabou a noite na casa dele.

Na manhã de segunda, ela precisou sair correndo para não se atrasar pro trabalho que ficava no outro lado da cidade. Apesar da pressa em direção ao primeiro ponto de taxi, ela pensava que jamais iria voltar pro João Marcos. Não queria sofrer de novo o que já tinha sofrido uma vez. Ela não queria mais ele. simplesmente porque não amava mais ele, apesar de reconhecer que o sexo com ele tinha as suas vantagens.

Chegou ao ponto de Taxi eram quase 8 horas, não tinha jeito, chegaria atrasada. 
Entrou na primeira condução, deu o endereço em voz alta, enquanto tirava um kit de maquiagem da bolsa e começava a sua arrumação. Naquela manhã vestia uma saia preta que de pé cobria suas pernas até o joelho. Uma blusa branca e sapatos de salto que combinavam com a saia e com a bolsa.

Penteou os cabelos, fez a maquiagem, tudo apressadamente e logo já estava como se tivesse saído de um salão de beleza. É incrível a quantidade de coisas que as mulheres carregam e suas bolsas e as transformações que conseguem em tão pouco tempo.

Guardou as suas coisas novamente na bolsa. Olhou pela janela ao seu lado direito para ter uma noção de onde estava. Ainda tinha pelo menos uns dez minutos até a chegada. O trânsito estava cruel naquela parte da cidade.

Olhou para frente e foi ai que ela viu. Pelo retrovisor do carro ele olhava para ela. Seus olhos eram fortes e constantes. No inicio ela se sentiu incomodada. Não queria um homem lhe olhando em uma segunda-feira em que ainda não tinha nem se olhado em um espelho descente.

No inicio não pensou em outra coisa a não ser que aquele sujeito era um tarado, mas aos poucos, enquanto ela olhava para aqueles olhos castanhos através do retrovisor, ela começou a sentir algo diferente. Teve vontade de provocar, de saber até onde ele iria.

Deu uma leve levantada na saia. Ficou olhando firmemente para o retrovisor. Abriu levemente as pernas, ao ponto de não mostrar nada e ao mesmo tempo mostrar tudo. Ela o taxi andar mais devagar.

Ela riu por dentro, gostou da ideia de um estranho lhe comendo com os olhos. Olhos estes que só lhe passavam desejo, de um homem que não conhecia e que mesmo sem conhece-la a desejava e ela podia ler isso naquele olhar.

Poderia ficar naquele jogo de olhares e provocação por muito mais tempo, mas o carro parou em frente ao prédio do escritório. Ele apenas ditou o valor que apontava no taxímetro. Ela pegou o dinheiro na bolsa. Aline queria ver melhor o seu admirador estranho, mas ele não olhou para trás, apenas levou as mão e pegou o dinheiro, e num último ato de flerte tocou seus dedos de forma macia.

Ela desceu e ainda tentou olhar pela janela, mas não deu tempo ele partiu, sem que ela tivesse a oportunidade de vê-lo com perfeição.

O dia de trabalho foi uma penúria. Aline se lembrava dos olhos do seu tarado estranho. Ás vezes se desligava tanto do trabalho que chegava a sentir o toque novamente, leve, suave, excitante em suas mãos.

Os dias que se seguiram foram com a mesma sensação. As noites ela sonhava com aqueles olhos castanhos, simples, mas tão provocador que lhe fazia sentir arrepios e por algum motivo ela começou a sentir falta daquele estranho tarado lhe olhando, foi então que ela decidiu procurá-lo, mas como procurar alguém que ela não conhecia com perfeição. Poderia ter anotado o prefixo do taxi, mas não o fez, apenas carregava na mente a lembrança daquele par de olhos castanhos que lhe penetraram na alma.


Foi ao ponto de taxi. Uma, duas, três vezes e nada. Ela não conseguia encontrar o seu tarado. Ela entrava num taxi e a primeira coisa que fazia olhar para o retrovisor. Alguns até olhavam para ela, mas ela sabia que nenhum daqueles olhares era ele.
Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 09/11/2012
Reeditado em 12/11/2012
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