CAVIAR... SONHO E FRUSTRAÇÃO

Francisco era um vendedor de uma empresa. Homem simples, sempre bem humorado aceitando as gozações que os colegas lhe faziam. Hoje essas gozações seriam consideradas preconceituosas, mas não se magoava, pelo menos, não deixava transparecer. O bullying não o atingia. Era pobre, mas feliz de espírito. Casado, sua esposa trabalhava de diarista quatro vezes por semana para ajudar no orçamento doméstico. Moravam numa favela numa casa ainda sem emboço. Tinham dois filhos que ela cedo os levava para a creche e apanhava-os à tarde. Preparava um jantar simples dentro das possibilidades financeiras. As sobras, quando existiam, o Totó devorava. Totó era um cachorro de pequeno porte, magro que mal tinha forças para latir. Seu tórax mostrava as costelas salientes. Se fosse visto de frente as costelas pareciam duas harpas.

Francisco sempre sonhava e dizia: - “Um dia ainda vamos comer como gente rica, beber vinho, e você Totó vai comer ração. Isso eu prometo”.

Um dia o Francisco efetuou uma venda, cujas comissões triplicariam o seu salário. Aguardou essa comissão, ansiosamente, por dois meses. Quando recebeu comprou roupas novas e sapatos para a mulher e as crianças e comprou também uma toalha branca bordada especialmente para o jantar. No Pet Shop comprou a ração para o Totó.

Foi a uma loja de produtos importados e comprou vinho, queijos, torradas e o almejado caviar. Ao chegar a casa, mostrou as compras para a mulher. Pediu a ela para servir a mesa com a toalha nova e foi tomar banho. Ele ansiava pelo momento de fazer um canapé com o caviar e tomar uma taça de vinho. Essas taças ele também comprou, pois seus copos eram reaproveitados de extrato de tomate e requeijão que vez ou outra ele comprara para o café da manhã, substituindo a margarina das crianças. Finalmente ele cumprira a promessa. Comprara tudo o que tinha prometido. Ele estava leve e feliz.

Na hora do jantar ele colocou o vinho nas taças e procurou na mesa o caviar. Não o vendo, perguntou à mulher:

- Onde está o caviar? Eu quero fazer uns canapés e saborearmos com vinho nestas taças.

- O que você falou Francisco?

- O caviar, aquelas latas redondas, cor de rosa.

- Eu misturei com a ração do Totó. Você não disse que era para nós.

Francisco, frustrado, olhou para o Totó que passava a língua de um lado ao outro da boca e abanava o rabo como que agradecendo a gostosa refeição. Pegou sua taça de vinho e carinhosamente ofereceu-a para o Totó tomar o vinho. Afinal, ele foi o privilegiado. Totó apenas cheirou. Francisco colocou a mão sobre a cabeça do Totó e se contendo para não ficar com os olhos marejados, pensou:

“Como é difícil ser pobre. Pobre não come caviar nem quando compra. No meu trabalho eu convivo com pessoas de cultura mais elevada, mas minha mulher e as crianças nunca ouviram falar de caviar”.

Santo Bronzato

Nota: Baseado em fato real.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 09/11/2012
Código do texto: T3977124
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.