Bela e o Boné Vermelho
A história de Isabela se passa no Morro do Macaco, grande favela carioca que é conhecida pela sua violência e crime. Isabela era órfã, perdeu seu pai aos 5 anos de idade,ele foi usuário de drogas e sua mãe morreu injustamente devido a uma bala perdida em um tiroteio entre o BOPE e os traficantes locais. A menina que era conhecida como Bela pela comunidade, passou a morar com sua adorada avó Maria.
O barraco da avó de Bela ficava em um morro bastante alto, cheio de escadas e ladeiras. Os becos estreitos e sem rede de saneamento básico deixavam o lugar com um aroma nada agradável, o que fazia com que Bela não gostasse do ambiente em que morava. Dona Maria, como era chamada, vivia doente e quase não saía do barraco, o que fez Bela largar os estudos para cuidar da avó. Porém, Dona Maria sempre dizia para ela voltar a estudar e deixar de andar com pessoas que não eram do seu agrado, sempre temendo pelo futuro da neta.
Ela era muito linda e chamava a atenção de todos. Loira, olhos azuis, corpo bonito e sorriso encantador, era assim que os meninos da comunidade a descreviam, Bela, porém, não se achava bonita, sempre com seu boné vermelho na cabeça, era conhecida por todos pois usava-o diariamente, o boné era a única herança deixada pela mãe. Ela dizia que trazia sorte para ela e servia como um amuleto protetor, pois ao usar o boné vermelho ela sentia a presença de sua mãe.
Bela não sabia que tinha um admirador na comunidade, mas todos os dias que ela descia o morro para comprar pão ou ir ao mercado, o Cicatriz grande traficante do Morro do Macaco deixava o que estivesse fazendo para olhar para a beleza de Bela, e dizia para seus amigos:
- Essa mina ainda vai ser minha mano, podes crê!
- Pirô, Cicatriz, essa mina não dá mole pra rapá nenhum, meu irmão! Disse Fernando, seu amigo mais chegado.
- Qué apostar que amanhã quando ela descer o morro, vou barrar ela e mandar a maior cantada? Ela vai cair na minha, brother! Disse Cicatriz entusiasmado.
- Quero mermo vê, cumpade! Falou Fernando.
No dia seguinte, Bela foi comprar o pão para sua avó. Dona Maria sempre advertia sua neta:
- Cuidado, minha filha, se você ver qualquer movimentação estranha corra pra um lugar seguro, e se houver tiroteio nem pense em subir o morro de volta. Fique onde estiver e muito menos converse com esses bandidos, aqui ta cheio deles.
- Certo vó, pode deixar! Disse Bela colocando seu boné vermelho na cabeça.
Quando Bela foi voltando para casa com seu saco de pão na mão e passando pelo beco onde ficava o barraco de Cicatriz ele a abordou, assim como havia prometido no dia anterior.
- Vai pra onde, gata, com essa pressa? Disse Cicatriz com ar de malandro?
- Não lhe interessa, agora tenho que dizer pra onde vou, é? Disse Bela Chateada.
- Mas essa mina ta tirando onda comigo. Sabe que sou, princesa de boné vermelho?
- Não, e nem quero. Falou Bela desconfiada.
- Eu sou o cara mais importante daqui, gata. Sempre vejo você descendo o morro, e gostaria de ter um papo reto contigo, num canto mais sussa, topa?
Bela ficou logo desconfiada de quem se tratava, era o Cicatriz traficante de grande renome no morro. Ela nunca tinha o visto antes, mas lembrou dele na hora em que olhou seu rosto e viu a cicatriz bem marcada em sua face. Lembrou das histórias que a comunidade contava, como ele tinha adquirido aquela marca. Ela engoliu em seco e respirou fundo. Seu coração acelerou cada vez mais rápido, ela colocou a mão no seu boné vermelho protetor e falou:
- Tô apressada, não quero papo nenhum com você.
- É o quê? Mina nenhuma dá um fora em mim não, minha irmã. Disse Cicatriz irritado.
- Mas eu não sou como as meninas daqui, não quero me envolver com ninguém. Falou Bela meio nervosa.
Cicatriz colocou a mão em seu bolso de trás e puxou um revólver na hora para Bela, e gritou:
- Você tá merecendo um castigo sabia, mina? Você tá querendo que eu faça besteira? Eu faço, não me custa muito. Disse ele aproximando-se de Bela.
Bela ao ver a arma ficou mais nervosa do que estava e não pensou em mais nada a não ser correr. Ela saiu em disparada para o barraco da avó, enrolou por um beco bem estreito, subiu os degraus na maior velocidade que podia e deixou Cicatriz pra trás, mas Bela tinha esquecido que Cicatriz conhecia o morro como a palma da mão.
Cicatriz ao ver a reação de Bela deu um murro na parede do barraco com fúria e correu em outra direção, ele sabia onde ela morava e foi correndo e escolhendo atalhos para surpreendê-la na sua própria casa. Ao chegar lá, ele sabia que encontraria a avó de Bela. Então, durante o percurso de Cicatriz ele planejou o que fazer com a avó dela. Ele arrombou a porta do barraco de Dona Maria, amordaçou-a, deu uma coronhada com o revólver na cabeça da pobre vozinha e escondeu-a debaixo da cama.
Bela, cansada de correr, viu o barraco da avó próximo e percebeu que a porta estava aberta, mas ela pensava que Cicatriz não teria seguido-a e entrou tentando parecer calma para não assustar a avó.
- Vó, cheguei! Cadê a senhora? Perguntou ela se dirigindo ao quarto.Bela nem percebeu que a porta estava arrombada de tanta preocupação que estava e, quando ela menos esperava, apareceu Cicatriz que falou:
- Tá procurando por mim, meu bem?
Ao ouvir aquela voz, Bela sentiu um calafrio percorrer por todo seu corpo. Ela virou lentamente e viu Cicatriz na porta do quarto. Sem fôlego, ela puxou forças de dentro de si e perguntou:
- O que você fez com minha avó?
- Calma gatinha, ela achou melhor nos deixar a sós. Disse sarcasticamente.
- Seu cretino se você teve a coragem de apagar ela injustamente vou te entregar pra policia. Falou Bela fora de si.
- Ah! Quer dizer que a menina do boné vermelho é uma X9? Disse ele tirando mais uma vez o revólver do bolso de trás da calça.
- Não tenho medo de você, seu bandido!
Cicatriz empurrou Bela que caiu ao chão e apontou a arma para sua cabeça. Ela colocou as mãos na cabeça e sentiu seu boné vermelho, e pensou na mãe que tinha morrido injustamente pelos bandidos. Quando Cicatriz colocou o dedo no gatilho e estava quase tirando a vida da menina ele ouviu uma voz vinda da porta do quarto.
- Não seja vacilão, Cicatriz, deixa a menina!!!
Subitamente Cicatriz vira para a porta e vê seu amigo, o qual apostou com ele que conquistaria Bela.
- Bela é minha vizinha, eu a conheço e sei que ela não merece morrer por uma tolice sua, mano, deixa a mina! Ele segurou também uma arma e apontou-a para Cicatriz sem medo.
- Essa mina tirou onda comigo e vai partir dessa pra melhor e você não irá atrapalhar, só me matando! Ele se virou para a menina que continuava encolhida com as mãos no seu boné vermelho e chorando.
Sem pensar, Fernando atira bem na cabeça de Cicatriz que vai ao chão sem nem ter tempo de disparar o revólver. Fernando corre para levantar Bela e coloca-a em um lugar confortável, ele vasculha o barraco e descobre Dona Maria que estava embaixo da cama desmaiada e leva ela para sua casa para alguém cuidar dela.
Ao voltar para o barraco de Bela, Fernando a vê sentada no sofá olhando para o corpo de Cicatriz segurando o boné vermelho bem próximo ao coração e dizendo:
- Obrigado, mãe, por me proteger por mais um dia!!!