OSMAR

Homem na mesa de bar, com voz pastosa, chama: - Osmar, ô Osmar...é o Osmar, gente... Há quanto tempo, Osmar ! Venha aqui tomar um negócio comigo.

Ô Osmar, que saudade cara! Ô Ambrósio, traga um whiski aqui pro Osmar. E do bom, hein. Não me venha com aquele fajuto. E traga mais um prá mim também. - E aí Osmar, como é que vai essa força? - Osmar, nem te conto, cara. Tô num sofrimento danado! A Eugenia me largou! Foi embora, Osmar, sem mais nem menos.

Cantarola, com voz de bêbado: "Quem parte, leva a saudade...".

- Olha , Osmar, foram quinze anos! Uma noite, chego em casa cansado do trabalho, com a cabeça cheia de problemas e a Eugênia me diz, de sopetão: - Olegário,vou me embora. Nosso casamento acabou.

Eu ali, parado, só pude dizer, com a voz meio desafinada: - Que história é essa, Eugênia. Pare com isso.

E ela:- É isso mesmo Lega !

Eu, levando aquela facada e ela ainda me chama de Lega!

Ela diz: -Não dá mais. Conheci outra pessoa, me apaixonei e não quero ficar te enganando. Vou com a roupa do corpo. O resto você pode queimar ou dar para quem quiser. Adeus.

-Olha, Osmar, eu fiquei ali, paralisado, sem saber o que dizer ou fazer. Naquela hora eu pensei, "bom, ela está de brincadeira comigo. Daqui a pouco ela volta., a gente se beija e fica tudo numa boa. Mas ela não voltou,Osmar. Não sei nem pra onde foi. Deve estar com algum vagabundo. Mulher é assim, Osmar. o vagabundo chega de mansinho, vai elogiando, um dia traz um bombom, no outro uma flor e mais elogios. Assim vai indo, vai indo, até que ela cai na conversa. Ele sabe como fazer, é tudo uma questão de tempo e , tempo, o vagabundo tem de sobra. Ô Osmar, você se lembra quando nós, eu, a Eugênia, você e tua mulher, a...como é mesmo o nome dela...não me lembro... não faz mal... fomos os quatro ao baile de carnaval?

Cantarola: "Quanto riso, Oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...". Osmar, tô sofrendo muito, cara.Cornice aguda, rrrrrsssssss.

Ô Ambrósio, traga mais um whiski aqui pro meu amigo Osmar. E outro prá mim. Fala, em voz baixa: -Eu não sei se o nome dele é Ambrósio, mas eu chamo e ele atende.... É, Osmar, não sei o que vou fazer da minha vida.

O homem debruça na mesa e começa a chorar. Pega no sono. Preocupado, chamo o garçon, que me diz: - É assim mesmo, todo dia é a mesma coisa. Ele bebe, bebe, dorme um pouco na mesa e vai embora.

- Você demorou!

- Pois, é, você não sabe o que me aconteceu. Saltei do ônibus e quando passava em frente daquele bar ali na esquina ouvi alguém chamando: - Osmar, Osmar. Eu, instintivamente, olhei . Era o Olegário. E era a mim que ele chamava! Fui até ele, não sabendo o que podia esperar. Ah, fiquei até com pena do cara. Ele está mal, bebendo demais e toca a me contar a história da separação.

- E você, Carlos, o que fez?

- Ué, Eugênia, além de me confundir com um tal de Osmar, ele ainda mandou que me servissem dois whiskis do bom. Que é que eu podia fazer? Bebi os whiskis e ouvi toda aquela lenga-lenga. Daí, ele dormiu na mesa eu vim embora....

FIM

Wander Sgarbi
Enviado por Wander Sgarbi em 07/11/2012
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