Ana e os monstros internos

Enquanto esperava impacientemente naquele quarto quente, onde fui deixada para refletir, senti uma necessidade enorme de relatar tudo o que passava pela minha cabeça, quem sabe se ainda me sentiria assim amanhã, se me lembraria para passar a diante, ou se ainda estaria viva para poder contar, essa foi minha motivação, mais não fora suficiente, ainda relutante fiquei pensando no porque de escrever isso, talvez pela necessidade artística interna, a necessidade de mostrar algo, e fazer com que fosse contemplado, não idolatrado, apenas visto, ouvido, pois ignorar não estava funcionando. Eu era apenas uma pessoa, vivendo em um mundo que estava se transformando, talvez como sempre estivera, mas essa era minha época, era tudo que eu conhecia e podia compartilhar, nesse tempo a ciência cada vez mais descobria o motivo das pessoas serem como eram, de acordo com as ações novas que eram praticadas por indivíduos que não tinham medo ou consciência de que poderiam virar exemplos, ou que eram apenas cobaias, daquela roda infinita, de mudança e descoberta que no final seria apenas um guia nos manuais, para descobrirem mais e dizerem que sabiam mais do que no ano passado. As pessoas continuavam vivendo aquelas vidas miseráveis e pensavam estar gostando, aquele pensamento estava tão fixado pelo comodismo que nada o faria mudar, mas eu conseguia ver aquilo, talvez eu fosse uma das poucas pessoas com aquele poder de percepção tão aguçado, ou não, talvez eu fosse apenas mais um dos exemplos futuros, talvez eu sofresse de algum distúrbio, alguma ramificação da esquizofrenia, ou quem sabe me encaixasse em alguma explicação Freudiana.

Enquanto eu tentava me auto definir inúmeros conceitos vinham em minha mente, conceitos ditos por terceiros, mas eram julgamentos apenas. Mas o que realmente me fascinava ou me deixava louca da vida era aquele jeito de poder estar em dois seres ao mesmo tempo, talvez três. Isso poderia explicar minha falta de personalidade definida, talvez a minha personalidade não se formasse, pois não cabia em uma só, não deveria ser apenas uma, era como se aquele signo duplo me duplicasse também, quem sabe dois fetos foram formados tempos após a concepção, com personalidades completamente distintas e por alguma razão se fundiram, e se transformaram em apenas um. Não... Eu não me autodenominava uma “mutação”, isso nem passava pela minha cabeça, embora conseguisse e até gostasse de escrever historias surreais e encantadas, isso de forma alguma se aplicava a minha realidade, eu queria mais que tudo uma formação lógica para poder seguir, quem sabe um roteiro.

Comumente julgava meu futuro, o que seria de mim dali para frente, até aqueles anos de infância estava tudo indo bem, ou bem na medida do possível, uma maturidade unilateral prematura se formou com experiências não muito agradáveis e que talvez tenham moldado meu pensamento sobre as pessoas e sobre suas ações, me referia à maturidade unilateral, pois apesar de pensar com alguns anos a mais em certos momentos, em outros conseguia preservar minha infantilidade, e isso me ajudou (ou atrapalhou, de certa forma) a pensar que eu era uma criança normal, e que deveria ou conseguiria ser como todos os outros.

Aquele sonho bonito de “era uma vez”, ou “das fases da plantinha”, tentou ocupar minha mente, ou melhor, foi imposto por algum tempo. Mas não me convenceu, e eu continuava a pensar que era diferente. O que estava errado? Ou porque eu tinha aquela visão tão perturbadora e sem sentido aparente sobre o ser humano?

(...)

Sinclair
Enviado por Sinclair em 02/11/2012
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