Os amantes - In-contos

A rua, àquela hora da manhã, estava infestada de gente apressada; aos encontrões andavam, quase, a correr rumo aos seus respectivos trabalhos.

Em meio a esta turbamulta, dois jovens caminhando lado a lado, conversavam.

- Precisamos resolver o nosso problema - disse Alfonso Sonso.

- É, precisamos. Mas como ? - respondeu Laurinda.

- Olha, é preciso encarar a verdade; enfrentá-la face a face, senão nunca resolveremos.

- Sei, mas é tão difícil - disse Laurinda, já sentindo, que não podia adiar mais a solução do problema.

- Eu sei que é difícil. Eu compreendo você, mas é uma coisa ou outra; ou ficamos com o apartamento ou não. Nós precisamos, entenda

bem !!. Este apartamento é um presente dos Céus; não acharemos outro igual.

- Eu sei. Sei, muito bem, mas, sinceramente, não vou me separar de alguém que fez parte de toda a minha vida, embora esteja velho, doen-

te, não vou abandoná-lo.

- Ah, meu Deus, você não me ama ???.

Silêncio. Laurinda não tinha palavras que responder.

- Escuta, o prazo vence hoje. Não podemos perdê-lo de jeito nenhum.

- Você está me pressionando. Eu já disse: não vou abandoná-lo. E

pronto. Fim de papo.

Com esta negativa tão óbvia quão peremptória, Alfonso Sonso não se

conteve, esqueceu do lugar onde estavam, isto é, ainda, driblando a

multidão que vinha em sentido contrário, e esbravejou:

- Ôôôô, mulher inútil; cérebro de camarão. Você não sabe que ficaremos sem teto e separados ???.

Todos que ao redor passavam, ao ouvirem tais palavras, pararam esperando o desfecho, como de uma novela, e o desfecho não se fez

esperar.

Laurinda deu tamanho safanão no rosto de Alfonso Sonso, que poderia ser ouvido até o outro quarteirão.Alguns passantes, outros parados a

assistir aquela inusitada cena, riram, outros ficaram com aquele risinho pendurado nos lábios, outras gargalharam e, houve até um engraçadi-

nho que gritou de longe :

- Ei, rapaz. Precisa de ajuda ???. Se continuar assim, vai apanhar mais do que cachorro sem dono.

Alfonso Sonso, naquele momento, ficou sem ação, parado ouvindo as

gargalhadas que soavam como verdadeiras chibatadas, pensou:

- Assim não dá...assim não dá.Tudo isto por causa de um cachorro velho ??. Assim não dá...assim não dá.

gerson chechi
Enviado por gerson chechi em 31/10/2012
Reeditado em 19/11/2012
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