O terral e a divisão dos peixes
A madrugada alencarina repousa as formigas e é cenário dos mais diversos atos transviados da geração globalizada.
Os destemidos companheiros do Chico da Matilde, como também seus antecedentes e descendentes, aproveitam essa hora do terral para perpetuar a sobrevivência.
A temperatura baixa e a alta pressão do continente sopra a jangada para os mares bravios, durante a madrugada, devolvendo-a de dia quando inverte e fecha o ciclo.
Uma jangada aporta no Mucuripe. Trinta e três peixes pescados. Os três menores são distribuídos aos pedintes e a metade é para o dono do barco. Cinco pescadores: dois Franciscos, dois Josés e um Raimundo, o Bigode. A mercadoria, dividida igualmente, tem destino muitas vezes semelhante.
Bigode sai do mar direto para o botequim. Vende dois peixes para o dono do estabelecimento e gasta com cachaça, fumo e sinuca.
Chega em casa com um peixe só, quase meio-dia e dá pra mulher preparar o almoço da prole.
Pronto, agora é descansar até a madrugada para mais um dia de luta.
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Escrito em 12/06/2006 # 10:03